Transição energética fortalece Brasil detentor de terras raras na negociação com Estados Unidos
A saída – não tem outra alternativa – é a convocação popular para defender o interesse nacional
A riqueza real do mundo não é mais o dólar, que perde hegemonia com a queda proporcional do capitalismo americano frente ao capitalismo chinês em migração para o socialismo.
A verdadeira riqueza material, depois do valor trabalho, gerador de valor que se valoriza, são, hoje, os minerais que dispõem da capacidade de conectividade energética para movimentar a economia global sem maiores perigos de destruição ambiental.
A energia carbono chegou ao seu limite de exploração e, mesmo que haja reservas disponíveis em grande quantidade na natureza, ela impõe barreiras à sua exploração, devido ao efeito estufa, ameaça concreta à vida humana.
A descarbonização global será – já está sendo feita – pela energia limpa, que o processamento dos minerais metálicos – denominados de terras raras – proporcionará, na substituição do carbono, como imperativo categórico.
Nesse sentido, os países que possuem terras raras, elementos químicos para fabricação de baterias, chips, radares, satélites, painéis solares, turbinas de jatos etc, são, potencialmente, os mais ricos do mundo.
NOVA RIQUEZA REAL
Portanto, quem dispõe dessas terras raras, cerca de 17 elementos químicos, devidamente processados, para serem industrializados em produtos anti-poluentes, livrando a humanidade do destino sinistro da morte pelo carbono poluente, possui a nova riqueza mundial.
China, Brasil e outros países latino-americanos, bem como os africanos etc, são os novos ricos do mundo.
Os países altamente industrializados deixam de ser protagonistas para serem coadjuvantes, dependentes.
Antes, exerciam o poder de troca de forma vantajosa, que se configurava pela transação entre o produto manufaturado caro pelo produto primário barato, no processo de colonização.
A deterioração nos termos de troca sempre favoreceu os ricos, aprofundando a pobreza estrutural do capitalismo periférico, em forma de domínio monetário especulativo.
Tal desvantagem competitiva revelou, historicamente, incapaz de garantir à periferia capitalista poder suficiente para processar suas matérias primas, a fim de dispor de preços competitivos e mão de obra de qualidade para valorizá-los, exponencialmente.
Não, o que acontecia – e ainda acontece – era a exportação do produto primário da periferia, a preços insignificantes, para dispor de dinheiro para importar, em desvantagem, produto industrializado a preços exorbitantes, determinado pela moeda hegemônica dominada pelo capitalismo cêntrico.
Nos séculos 19 e 20, adentrando para o 21, os determinantes monetários das trocas comerciais globais foram a Inglaterra, com a libra esterlina, e os Estados Unidos, com o dólar.
EMERGÊNCIA CHINESA
Esse quadro mudou, no século 21, com a emergência da China, que avança como a economia mais poderosa em termos de paridade de poder de compra.
Dispondo, ainda mais, de terras raras em quantidade fenomenal, os chineses estão com a bola toda, principalmente, porque desenvolveram tecnológica e cientificamente o seu processamento em produto industrial etc.
A China atuou nesse sentido, especialmente, porque se recusou, na grande crise capitalista de 2008, que abalou o sistema financeiro americano e o dólar, a submeter-se ao neoliberalismo, imposto pelos americanos, depois da derrota do socialismo, na União Soviética.
O nacionalismo chinês, que emergiu com a revolução socialista de Mao Tse Tung, em 1949, evoluindo para construção de nova sociedade, visando cooperação internacional, por meio do comércio, seguiu o caminho da independência econômica e financeira, ancorada em política econômica anti-neoliberal.
Deu a volta por cima.
Hoje, os chineses estão científica e tecnologicamente na frente, porque processam suas terras raras, acelerando a fabricação de produtos que antecipam o novo mundo descarbonizado – o que não aconteceu, ainda, com os Estados Unidos, dependente do petróleo poluente.
Por isso, a riqueza real – a natureza transformada em valor monetário crescente impulsionada pelo valor trabalho exponencial chinês – determina a valorização da sua moeda.
Os chineses, portanto, ultrapassam o dólar, porque, dispondo de terras raras e do conhecimento para industrializa-las, para produzir carros elétricos, painéis solares, baterias, chips, radares, satélites etc, conferem valor real a sua moeda e não, meramente, valor fictício, como se transforma a moeda americana sob ataque especulativo no cenário da financeirização global.
BRASIL NA RETAGUARDA DEPENDE DA MOBILIZAÇÃO POPULAR
No caso do Brasil, isso não aconteceu.
A economia brasileira se rendeu ao modelo neoliberal, ao tripé econômico – metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávit primário – e, por isso, perdeu corrida da industrialização, justamente, no momento em que, dispondo das terras raras, favoráveis à industrialização, não possui condições materiais para industrializar sua imensa riqueza material no subsolo nacional.
O presidente americano, Donald Trump, quer impor sua vontade, porque sabe que, financeiramente, o Brasil é dependente das exportações dos seus produtos primários para sobreviver e os produtos manufaturados que fabrica têm seu mercado nos Estados Unidos, agora, ameaçados pelo protecionismo imperialista trumpista.
O presidente, chefe do poder executivo, que reage ao imperialismo trumpista, sabe que o poder de negociação que dispõe é único na história: poder popular.
É com ele que o Brasil soberano pode dar a volta por cima, por meio da negociação da sua riqueza com a utilização do poder de reciprocidade aprovado no Congresso, nesse auge do protecionismo trumpista.
DISPUTA SOBERANA EM CENA
A China vende para os Estados Unidos suas terras raras em forma de produto acabado, industrializado.
Por que o Brasil não pode fazer a mesma coisa, industrializando sua riqueza mineral?
A negociação Lula-Trump, portanto, tem que partir do critério da soberania popular que não pode ser ultrapassada pelo imperador, para tentar colocar o Brasil de joelhos, como faz imaginar o trumpismo imperialista.
Mas, felizmente, se sabe que Trump é um boquirroto: berra, tentando impor à força sua vontade, porém, sabe que não pode tudo, sendo obrigado ao natural jogo da negociação e da correlação de forças políticas à qual a humanidade está materialmente sujeita, sob pena de extermínio suicida.
A imposição imperialista, no limite, libera a revolução nacional, algo que a burguesia entreguista tupiniquim teme.
Nesse contexto, o pressuposto básico é o seguinte: quem detém a riqueza real para negociar não é Trump, mas Lula, porque os Estados Unidos dependem visceralmente das terras raras que estão no subsolo brasileiro.
Agora, para se fortalecer, nessa negociação, num cenário realista, no qual a força financeira do Brasil está sob ataque do neoliberalismo, fragilizando-o, a saída – não tem outra alternativa – é a convocação popular para defender o interesse nacional.
E essa é a força de Lula.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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