Tá na hora da realpolitik
Direita e Centrão mostraram que preferem proteger bilionários e casas de aposta a garantir programas sociais
É importante começar dizendo que a postura dos partidos do Centrão e da direita no plenário da Câmara dos Deputados, ao deixarem caducar a Medida Provisória do BBB, foi, antes de tudo, uma defesa clara dos interesses dos bancos, das casas de apostas — as chamadas bets — e dos bilionários deste país. Simples assim. E tudo isso, dizem muitos que acompanham a cena em Brasília, sob orientação e apelo direto do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que teria ligado diretamente a presidentes de partidos e parlamentares.
Como objetivo secundário, claro, estava frear o avanço do governo Lula, especialmente de olho em 2026, ano eleitoral.
Ao retirar cerca de R$ 20 bilhões do orçamento previsto para o próximo ano, tentam inviabilizar programas que beneficiam as camadas populares, como Gás do Povo, Luz do Povo, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, Agora Tem Especialistas, Pé de Meia, Bolsa Família, entre outros.
Tudo isso, vale repetir, protegendo bilionários, bancos e o pessoal da jogatina — setores que, convenhamos, nada produzem e só sugam da sociedade.
Parece que esses parlamentares acreditam, de fato, que a história se repete. Acham-se reencarnações em vida de Eduardo Cunha. Esquecem que o cenário econômico nacional é outro, que as curvas de avaliação do governo caminham em sentido oposto ao de 2015 e 2016 — e que, acima de tudo, agora é Lula.
A mensagem geral, contudo, que fica é muito clara: o quadro eleitoral para 2026 está dado. Se havia alguma expectativa de atrair parte desses partidos para uma aliança governista, ela foi por água abaixo. Estarão com o governo os partidos de centro-esquerda e esquerda, que enfrentarão um grande bloco de direita.
Dito isso, é hora de a realpolitik entrar em cena. O governo precisa tratar adversários como adversários. Usar a força de ser governo para fortalecer o próprio projeto, não permitir que ele seja utilizado para dar espaço e poder àqueles que amanhã estarão em outra trincheira — se é que já não estão. Isso vale em todos os níveis. Usar o que ainda resta de discricionariedade governamental para fazer valer o seu projeto. Afinal, é assim que governos agem. Basta perguntar aos petistas concursados como foram tratados no governo anterior.
Para construir uma vitória, não é possível manter adversários ocupando cargos de livre nomeação, ordenando despesas, lidando com informações estratégicas e contratando e sendo contratados como se não tivessem nenhuma responsabilidade pelos obstáculos criados ao governo para que ele possa atingir seu objetivo maior: incluir os pobres no orçamento da União.
E não me venham falar em caça às bruxas ou em aparelhar o Estado. Isso se chama, simplesmente, exercer o poder.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.