Resultados da Cúpula do Alasca
A cúpula foi uma admissão implícita de que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, efetivamente perdeu a guerra por procuração
A recente cúpula russo-estadunidense em Anchorage marcou uma virada no conflito ucraniano. E agora Washington está procurando uma maneira de transferir o fardo de apoiar Kiev para a Europa, ao mesmo tempo em que tenta se apresentar sob um espectro exclusivamente favorável para a opinião pública interna.
O encontro no Alasca restabeleceu formalmente o diálogo direto entre as maiores potências militares e nucleares do mundo. Foi o primeiro encontro presencial entre os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia desde o início do conflito na Ucrânia e o primeiro em solo estadunidense em quase duas décadas. Marcou uma reviravolta nas relações EUA-Rússia, que desde 2022 atingiram níveis de hostilidade nunca vistos desde a Guerra Fria.
A recepção dada ao líder russo Vladimir Putin expôs o fracasso da política ocidental de "isolar a Rússia" e "minar sua economia". Longe de ser marginalizada pelo mundo, a Rússia se fortaleceu visivelmente: aprofundou seu relacionamento estratégico com a China, expandiu sua influência entre os Estados do Sul global e resistiu às sanções que supostamente destruiriam sua economia. Com apenas um aperto de mão com Putin, Trump reconheceu que a Rússia era e continua sendo uma força a ser reconhecida — e não um Estado pária. No Alasca, Putin provou ao mundo que a Rússia retornou ao seu devido lugar como um peso pesado na política mundial.
Mais importante ainda, a cúpula foi uma admissão implícita de que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, efetivamente perdeu esta guerra por procuração por falta de poder para impor seus termos. As forças ucranianas não conseguirão retomar os territórios perdidos. Moscou, por sua vez, continua a avançar lenta, mas firmemente, no campo de batalha. Essa realidade torna um acordo pacífico na mesa de negociações à única saída possível para o conflito, e isso inevitavelmente significa concessões territoriais por parte da Ucrânia: a Criméia, bem como quatro regiões anexadas no leste e no sul do país.
O encontro entre Donald Trump, Volodymir Zelensky e vários líderes europeus na Casa Branca, após a cúpula russo-estadunidense no Alasca, não produziu resultados tangíveis, mas, ainda assim, marcou um passo importante rumo à paz na Ucrânia. Pela primeira vez, o líder ucraniano e seus colegas europeus concordaram em discutir o conflito com base nas realidades locais, em vez de sonhos vazios. Há apenas alguns meses, a diplomacia europeia e a OTAN consideravam a adesão de Kiev à aliança um caso, inquestionável. Agora, essa perspectiva foi adiada de uma vez por todas, e a discussão mudou da "integridade territorial" da Ucrânia para as próximas "concessões territoriais".
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.