Milei, em seu pior momento: escândalo de corrupção, derrotas no Congresso e oposição revitalizada

Os argentinos acompanham atentamente as denúncias da trama de negócios espúrios envolvendo o advogado e amigo do presidente Javier Milei e sua irmã, Karina Milei, que é secretária-geral da Presidência. Milei a chama de ‘o’ chefe e costuma atribuir a ela decisões do governo. Já o advogado Diego Spagnuolo, agora ex-diretor da Agência Nacional para Pessoas com Deficiência (Andis), era um dos frequentadores assíduos dos encontros dominicais de ópera na residência presidencial de Olivos. Milei só convida amigos próximos para suas rodas de ópera. As relações umbilicais com Karina e sua confiança em Spagnuolo deixaram Milei, até agora, sem palavras sobre o caso que está na mira do eleitorado e da oposição argentina. A história foi revelada, na semana passada, pelo canal de streaming chamado Carnaval, que divulgou áudios com a voz de Spagnuolo detalhando o suposto esquema de propinas em contratos de medicamentos. Nos áudios, ele fala que já tinha avisado ao presidente e envolve Karina Milei. A divulgação dos áudios foi na terça-feira e Spagnuolo foi demitido dois dias depois, na quinta-feira. Na trama, Karina e seu assessor Eduardo ‘Lule’ Menem receberiam percentual dos negócios com uma rede de drogarias, que multiplicou seus contratos com o Estado nos últimos meses, de acordo com informações da imprensa local. Um dos advogados da ex-presidenta Cristina Kirchner entrou com uma ação na Justiça solicitando a investigação do caso e desde sexta-feira celulares e máquinas de contar dinheiro foram apreendidos na casa de Spagnuolo e a Justiça está atrás também dos empresários das drogarias envolvidas nas denúncias. Nesta segunda-feira, Milei voltou a discursar sobre a economia argentina. E, novamente, manteve silêncio sobre o escândalo que é o principal assunto na imprensa local e une a oposição. “Se roubam de pessoas com deficiência é que podem roubar em todos os lados”, disse o deputado opositor Leandro Santoro. Cristina Kirchner mandou recado irônico a Milei, através de suas redes sociais. “Che, Milei...Lembra do que inventaram para me colocar presa e me deixarem proscrita sob o argumento de que uma presidenta não podia não saber o que acontece com cada obra pública...Os áudios de teu amigo Spagnuolo provam que ele te avisou...E você não fez nada”

São dias complicados para os irmãos Milei. Karina já tinha sido citada em conversas dos empresários do escândalo do token $Libra, no início deste ano, quando Milei postou em suas redes sociais a promoção da criptomoeda e a apagou depois que ela desabou após forte desvalorização. O caso também está sendo investigado pela Justiça na Argentina e nos Estados Unidos. No Congresso Nacional, a oposição unida, após longo período de fragmentação no parlamento, e uma nova frente de dissidentes do partido de Milei, A Liberdade Avança (LLA), derrubaram vários projetos do governo. E ganha força uma comissão para investigar o caso $Libra. São dias nebulosos para o governo Milei. Nas horas vagas, quando não está no palco distribuindo insultos, Milei gosta de falar sobre ópera e de sua visão liberal da economia.  Mas ele mantém silêncio sobre o escândalo revelado pelo streaming Carnaval. Para a oposição, não se trata de uma opereta. E muitas perguntas estão no radar: quem gravou os áudios? Milei não tocará no assunto? Karina também não? O temor na Casa Rosada é que existam outros áudios, editados ou não, e até vídeos...comprometedores.