Lula fala verdades enquanto Trump delira na ONU
Discursos não podiam ser mais distintos; no placar das salvas de palmas, vitória para o presidente brasileiro por 5 a 1
A abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, ocorrida nesta terça-feira (23/9) evidenciou o contraste entre os presidentes das duas “maiores democracias ocidentais”. Enquanto o presidente brasileiro tratou dos desafios de um novo mundo multipolar, o presidente estadunidense apresentou um discurso cheio de mentiras e de ódio, que cada vez mais isola seu país. A diferença de recepção foi evidente, com a Assembleia interrompendo Lula cinco vezes para aplaudir, enquanto Trump só foi aplaudido ao pedir a liberação dos reféns israelenses em poder do Hamas. Para piorar, diversas vezes Trump saiu da leitura do teleprompter, desfilando então suas digressões recheadas de mentiras, ódio e ufanismo.
Entre as verdades faladas por Lula, podemos destacar: os ideais dos fundadores da ONU estão ameaçados e a autoridade da instituição está em xeque; o autoritarismo se fortalece quando a comunidade internacional não fortalece a democracia; a agressão externa ao nosso Judiciário é inaceitável; o Brasil deu recado a todos os autocratas: nossa soberania e nossa democracia são inegociáveis (aplausos); democracia supõe redução da desigualdade; a única guerra de que podemos sair vencedores é contra a fome e a pobreza; a comunidade internacional precisa rever suas prioridades; os super ricos devem pagar mais impostos que os trabalhadores; é preocupante equiparação entre criminalidade e terrorismo; é inadmissível que Cuba seja listada como país que patrocina o terrorismo (aplausos); é necessário criar opção realista para solução negociada da paz na Ucrânia; os atentados terroristas do Hamas são indefensáveis, mas nada justifica o genocídio em curso em Gaza (muitos aplausos!); ali está enterrado o direito internacional; o genocídio não poderia acontecer sem cumplicidade; a fome é usada como arma de guerra; o povo palestino corre o risco de desaparecer; é lamentável que o presidente Abbas tenha sido impedido pelo país anfitrião de comparecer à ONU (muitos aplausos); bombas e armas não nos protegerão do aquecimento global; é necessário sair da palavra à ação; medidas unilaterais desorganizam o comércio mundial; a voz do sul global deve ser respeitada e ouvida (aplausos).
De um modo geral, apesar das críticas veladas a Trump e aos EUA, e da crítica aberta a Israel e seus apoiadores, o tom do discurso de Lula foi positivo, destacando a necessidade de se reforçarem os organismos e a cooperação multilateral.
Em seguida a Lula, ocupou seu lugar na tribuna o presidente estadunidense, que deu então início ao desfile de mentiras, inverdades, incorreções e falsidades, reforçadas por sua proverbial falta de modéstia. Entre estas, podemos elencar: os EUA têm a maior economia do mundo (não têm mais); os EUA têm o exército mais forte do mundo (não têm mais); os preços da energia, gasolina e alimentos estão mais baixos nos EUA (não estão); a indústria está florescendo (não está); o governo garantiu 17 trilhões de dólares em investimentos (não garantiu) e está construindo a maior economia da história do mundo (não está; a China está); os EUA são respeitados novamente no teatro mundial, como nunca foram respeitados (sorrisos de desdém); foram assinados muitos acordos comerciais com outros países (não há evidências disso); ele encerrou sete guerras no mundo (não há evidências), enquanto a ONU não ajudou para solucionar esses conflitos (porque os EUA impedem); todos dizem que ele merece o Prêmio Nobel (todos quem?), enquanto ele não está preocupado com isso, apenas em salvar vidas (mentira deslavada); o ataque estadunidense obliterou o programa nuclear iraniano (apenas atrasou); o Hamas rejeitou as ofertas de cessar-fogo dos EUA (não rejeitou) e deve soltar os reféns agora (Obs: aqui houve um pequeno aplauso, a única vez que isso ocorreu durante seu discurso; Washington DC era a capital do crime na América (não era); o Brasil quis interferir na vida de cidadãos estadunidenses (não quis); o Lula gosta dele (não gosta; mas se tiver que conversar pelo bem do país, conversa); não existe aquecimento global (existe); Trump está correto a respeito de tudo (acredite, ele reforçou que isso é uma verdade!).
No discurso de Trump foi notável o silêncio da plateia, especialmente após afirmações impactantes, que sob o ponto de vista MAGA deveriam ensejar aplausos, tais como o fato (a mentira) de que nos últimos quatro meses o número de imigrantes ilegais que entrou no país foi zero. Também questionou o sentido das Nações Unidas, criticando as “palavras vazias” da instituição, deixando de notar o papel fundamental dos EUA para que a ONU seja impotente diante dos conflitos mundiais. Foi também notável também seu silêncio sobre o genocídio que Israel vem promovendo na Faixa de Gaza, referindo-se apenas à necessidade de o Hamas devolver os israelenses sequestrados.
Em suma, dois discursos representando bem os dois lados em conflito nesses tempos de Terceira Guerra Mundial: o Sul Global, multilateralista, apoiado em organizações como BRICS, SCO, ASEAN etc., preocupado com questões como aquecimento global, conflitos coloniais e concentração de riqueza; e a Aliança Atlanticista, unilateralista, apoiadas na imposição do mais forte, defendendo aumento dos gastos militares, reforço do protecionismo e da interferência estatal pró mercado, apoio ao genocídio israelense, repressão ao livre pensamento. Não é difícil realizarmos a escolha sobre de que lado devemos estar.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.