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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Genoíno retorna ao Araguaia – e ajuda a pensar o país de hoje

Genoíno participou, no Araguaia, de um dos primeiros movimentos de resistência armada que, sem representar uma real ameaça militar à ditadura

José Genoino (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Recém-chegado às livrarias, o livro "José Genoiíno Uma Vida Entrevista" apresenta um relato de 207 páginas sobre a luta de militantes do PC do B que se embrenharam no Araguaia para enfrentar a ditadura militar de 31 de março de 1964, sendo massacrados após três anos de perseguição e combate desigual na selva.

Escrito na primeira pessoa, com auxílio de dois jornalistas, Sávio Kotter e Nicodemos Sena, "Uma Vida Entrevista" descreve um universo peculiar da história brasileira.

Genoíno participou, no Araguaia, de um dos primeiros movimentos de resistência armada que, sem representar uma real ameaça militar à ditadura, tornou-se um dos primeiros atos de resistência armada contra o golpe de Estado que derrubou o governo de João Goulart.

Com 207 páginas, "Uma Vida Entrevista" foi escrito com auxílio de familiares dos companheiros tombados no Araguaia, que o próprio Genoíno procurou décadas mais tarde para refrescar a memória e conferir informações.

Ele diz no livro que, ainda na prisão, atuava como "alguém subversivo, mas no nobre sentido de desafiar o status quo -- só dessa maneira a empreitada pode se revestir do significado autêntico que o leitor merece".

O relato contém passagens curiosas. Genoíno descreve a reação dos prisioneiros em 1975, quando o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado no porão militar.

No país inteiro, ocorreu uma resposta indignada, na qual cada um protestava como podia. Se os estudantes foram às ruas em protesto e a cúria paulistana organizou uma missa de importância histórica na Sé, no Barro Branco os presos políticos também foram à luta do jeito que era possível.

Genoíno lembra que vestiu uma velha botina de sola de pneu, sobrevivente de lutas de rua e também de sua temporada no Araguaia, e começou a chutar uma porta de ferro.

"Foi um estrondo na cadeia", descreve, contando que um coronel que comandava o estabelecimento apareceu para ameaçar os prisioneiros que protestavam.

Como punição pelo petardo pneumático, Genoíno acabou proibido de tomar banho de sol no pátio e impedido de deixar a cela para o refeitório nos horários de almoço e jantar, regalias de primeira classe em toda penitenciária. Ele recorda no livro que protestou e exigiu que a cela ficasse trancada: "O senhor me tranque, tem a chave. Eu não vou sair com a cela aberta... isso não faço".

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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