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Jorge Folena

Advogado, jurista e doutor em ciência política.

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Fracasso do Ocidente é um alerta ao presidente Lula

A hipocrisia ocidental e o prêmio Nobel: como a defesa da democracia se perde no apoio a regimes que perpetuam a opressão e a exploração global

Lula e Nicolás Maduro (Foto: Ricardo Stuckert/PR | REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria)

A saudação do secretário-geral da ONU, António Guterres, à homenageada com o prêmio Nobel da “Paz” é a representação caricata do fracasso das instituições ocidentais, que conhecem muito bem a verdade sobre o conflito na Palestina, mas permitem que o genocídio em Gaza continue sendo praticado aos olhos de todos.

Em sua conta no X, Guterres manifestou que (sic): “O prêmio de hoje é uma homenagem a todos aqueles que trabalham para preservar a democracia, a liberdade e os direitos políticos ao redor do mundo, e um lembrete emocionante da resiliência e do poder do espírito democrático".

A cada ação conspiratória e tentativas de humilhação realizadas pelo Ocidente contra os que resistem às ações do colonialismo, penso como foi infeliz o questionamento do presidente Lula sobre a vitória eleitoral do presidente Nicolás Maduro, em 2024.

Parece que o nosso presidente não notou o que está em jogo na Venezuela há décadas, que é a luta de libertação de um povo explorado e de um país que foi expropriado de suas riquezas naturais; um país que, mesmo sendo detentor de uma das maiores reservas petrolíferas do mundo, é impedido de explorá-las em benefício do próprio povo ou para reafirmar a sua soberania e seu processo de desenvolvimento.

Recordo-me do que disse Cristina Kirchner, em 18 de maio de 2008, quando presidenta da Argentina, a José Manuel Durão Barroso, representante da União Europeia, também português, como Guterres: “A pobreza não veio à América Latina com o vento e a chuva, mas sim pela desapropriação de recursos desde que foi descoberta, somando ainda aos erros dos dirigentes locais". Prosseguiu a ex-presidenta argentina, à época: “Nós queremos uma negociação equilibrada. Não falo de ideologia, mas de números. Não é na União Europeia a maior concentração de pobres, mas sim na América Latina".

As palavras de Cristina ecoam até hoje, não sendo por acaso que ela foi perseguida e encarcerada pelo mesmo processo de lawfare que fez escola na famigerada operação Lava Jato, que espalhou seus venenosos tentáculos pela América Latina, como no Peru e no Equador.

Assim, a concessão do prêmio Nobel para uma fascista declarada é mais uma vergonhosa farsa promovida pelo Ocidente decadente, que enxerga no espelho o próprio fim, mas segue decidido a arrastar o mundo em seu processo de autodestruição.

É um escárnio e um deboche que tal prêmio tenha sido conferido a quem jamais defendeu a democracia e que, ao contrário, defende abertamente a submissão do próprio país aos interesses exploratórios mais atrasados, promovidos pelo governo dos Estados Unidos da América do Norte e por muitos integrantes da Comunidade Europeia, que não estão nada preocupados com o genocídio em Gaza nem com a pobreza na América Latina, na África e na Ásia, lugares que foram colonizados e onde ainda se mantêm a matança dos pobres nas periferias, aliada ao saque e à exploração das riquezas materiais, violências que eles promovem desde o século XVI.

A democracia defendida com orgulho e correção pelo presidente Lula, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, neste ano de 2025, não é a mesma praticada pela laureada com o Nobel, pelos EUA, por Israel ou pelos países integrantes da OTAN e da Comunidade Europeia.

A política de dominação e subjugação dos povos que os países liderados pelos EUA têm promovido na atualidade, inclusive com o retorno de Donald Trump à presidência e a manutenção do comediante autoritário e sem legitimidade de Kiev, apenas revela o fracasso do Ocidente, que, sem nenhum pudor, abre as portas de suas instituições para o fascismo, com sua ideologia de supremacismo racial, que espalha ódio, violência e destruição pelos quatro cantos do mundo.

Esse império, que mesmo confrontado com a própria decadência, se recusa a sair de cena e reage apostando na destruição de tudo e de todos, me fez pensar na cena da violenta não aceitação da própria finitude, performada pela andróide Pris (representada pela atriz Daryl Hannah), no filme clássico Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982).

Por tudo isso, penso que o presidente Lula deve desconfiar dos acenos feitos pelo imperialismo e ficar atento para não cair em suas armadilhas, uma vez que, tanto quanto Nicolás Maduro, Vladimir Putin, Xi Jinping e outros líderes do Sul Global, que resistem à exploração e se colocam contra a pobreza imposta à maioria da população do mundo, ele não é aceito por essa classe dominante mundial, que lucra com a subjugação, exploração, destruição e guerras.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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