TV 247 logo
      Leonardo Attuch avatar

      Leonardo Attuch

      Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

      508 artigos

      HOME > blog

      Entrevista de Lula à Reuters foi exemplo de dignidade

      O presidente deixou claro que está disposto a negociar, mas sem se submeter a qualquer humilhação

      Lula concede entrevista exclusiva à Reuters no Palácio da Alvorada (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

      A entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à agência Reuters nesta quarta-feira, 6, foi uma aula de como um chefe de Estado deve se posicionar diante de pressões externas. Em pouco mais de 50 minutos de conversa, Lula expôs com clareza as razões pelas quais considera a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de até 50% contra produtos brasileiros, uma medida autoritária, sem base econômica e com motivações políticas. Ao mesmo tempo, reafirmou que o Brasil seguirá aberto ao diálogo, desde que seja com respeito.

      O ponto alto da entrevista foi a recusa do presidente em se curvar às provocações de Trump. Questionado sobre por que não ligou para o mandatário norte-americano, Lula foi direto: “Não vou me humilhar”. A frase, curta e objetiva, traduz a postura que deve ser esperada de um líder nacional que zela pela dignidade do seu país. Lula deixou claro que está disposto a negociar, mas não aceita que um presidente estrangeiro tente interferir em assuntos internos do Brasil, especialmente em decisões do Judiciário.

      Outro trecho central foi quando Lula lembrou que o Brasil é um país soberano, com Constituição própria, instituições consolidadas e regras claras. Ao criticar a tentativa de Trump de condicionar relações comerciais ao fim de processos judiciais contra Jair Bolsonaro, Lula afirmou: “A Suprema Corte brasileira não está nem aí para o que fala o Trump, e nem pode estar”. Foi um recado necessário, em um momento em que se tenta transformar o Brasil em instrumento de disputas políticas externas.

      Lula também desmontou ponto por ponto as justificativas apresentadas por Trump para o aumento das tarifas. Mostrou que os Estados Unidos têm superávit com o Brasil nos últimos 15 anos — mais de US$ 400 bilhões — e que a maior parte dos produtos norte-americanos entra no país com tarifa zero ou próxima de zero. Segundo ele, o argumento de desequilíbrio comercial simplesmente não se sustenta. 

      A entrevista também teve um importante conteúdo econômico e estratégico. Lula afirmou que o governo já estuda medidas para proteger empresas brasileiras afetadas pelas tarifas, com foco na manutenção dos empregos e na busca por novos mercados. Mostrou que o Brasil não ficará parado esperando, mas atuará com responsabilidade para garantir que setores produtivos não sejam prejudicados. E deixou clara a disposição de ampliar parcerias com outros países, citando os BRICS, a China, a União Europeia e a Índia como alternativas reais.

      Outro ponto importante foi a crítica à postura unilateral de Trump nas relações comerciais. Lula defendeu o multilateralismo e o fortalecimento de mecanismos como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo ele, acordos bilaterais impostos por países mais fortes geram desequilíbrios e enfraquecem a capacidade de negociação de nações em desenvolvimento. O presidente destacou que o Brasil continuará buscando relações comerciais equilibradas, sem submissão.

      Lula ainda fez uma firme defesa da democracia e criticou a atuação de Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Acusou ambos de atuarem contra os interesses do Brasil ao incentivarem o aumento de tarifas e classificou esse comportamento como “traição à pátria”. É uma acusação que se justifica pelo prejuízo direto que a articulação de ambos pode causar à economia e aos trabalhadores brasileiros.

      Por fim, Lula reafirmou que seu governo está comprometido com a paz, o diálogo e o respeito às instituições. Disse que quer manter boas relações com todos os países, inclusive os Estados Unidos, mas que isso exige reciprocidade. A entrevista foi um exemplo de como se deve exercer a liderança internacional: com firmeza, clareza e dignidade. 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...