BRICS, Iniciativa de Governança Global e Consenso de Yunnan: um mundo novo já nasceu
Cúpula virtual do bloco, Fórum de Mídia e Think Tanks e defesa do multilateralismo apontam para o fim da hegemonia unipolar
Já não é mais correto dizer que um novo mundo está nascendo. Ele já nasceu, caminha a passos cada vez mais acelerados e a ordem multipolar é uma realidade concreta. A cúpula virtual do BRICS, convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e realizada na última semana, mostrou de forma inequívoca que a era da hegemonia unipolar chegou ao fim. O bloco, formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Irã, Egito, Etiópia e Indonésia, demonstrou capacidade imediata de articulação diante do fim da ordem do pós-Guerra e do bullying indiscriminado que vem sendo praticado pelo presidente estadunidense Donald Trump.
Ao lado da reunião, o Fórum de Mídia e Think Tanks do Sul Global, realizado pela agência de notícias Xinhua em Kunming, na província de Yunnan, reuniu representantes de mais de cem países e resultou no “Consenso de Yunnan”, um documento que rejeita a hegemonia, defende o verdadeiro multilateralismo e reafirma a busca por uma ordem internacional mais justa e multipolar. Trata-se da materialização de uma força coletiva que propõe caminhos concretos para o futuro da cooperação midiática.
O presidente chinês Xi Jinping, em sua intervenção na cúpula virtual do BRICS, foi claro: quanto mais estreita for a cooperação entre os países do bloco, mais soluções surgirão diante dos riscos externos e maiores serão os resultados. Ele destacou a necessidade de aprofundar a cooperação prática em comércio, finanças, ciência e tecnologia, áreas fundamentais para o desenvolvimento inclusivo e sustentável.
A fala do presidente Xi no encontro do BRICS conecta-se diretamente à Iniciativa de Governança Global, apresentada poucos dias antes em Tianjin, durante a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCS). Essa proposta se soma a outras três já lançadas pela China – a Iniciativa de Desenvolvimento Global, a de Segurança Global e a de Civilização Global – compondo um conjunto coerente de pilares para uma nova ordem internacional baseada em cooperação e não em confronto.
Vozes do Sul Global e a força da comunicação
No Fórum de Kunming, jornalistas, intelectuais e pensadores destacaram a urgência de uma maior cooperação midiática. Afinal, a narrativa dominante, muitas vezes propagadora de conflitos e de guerras, ainda é moldada pelos veículos do Norte Global, que insistem em retratar as potências emergentes como ameaça, e não como parceiros estratégicos de um mundo mais equilibrado.
O Consenso de Yunnan reforça que a mídia e os think tanks do Sul Global devem se consolidar como pontes de integração, amplificando vozes até então marginalizadas. Ao propor narrativas de desenvolvimento compartilhado, modernização inclusiva e prosperidade conjunta, os países do BRICS e seus parceiros passam a disputar, em melhores condições, o espaço simbólico da governança global.
Todos esses eventos recentes reforçam a transformação acelerada que está em curso no mundo. Além disso, o desfile militar de 3 de setembro em Pequim, que reuniu delegações de diversos países do Sul Global, lembrou o papel histórico da resistência contra o fascismo e reafirmou a defesa da paz como valor universal. Já a cúpula de Tianjin consolidou o lançamento da Iniciativa de Governança Global como resposta às crises do unilateralismo, do protecionismo e das guerras comerciais.
Essas iniciativas não surgem do nada: são a resposta histórica de nações que buscam romper séculos de dominação externa e afirmar sua soberania. O BRICS, nesse contexto, funciona hoje como o grande catalisador de mudanças estruturais na ordem internacional, articulando uma rede de cooperação ampliada – e o presidente Lula acertou ao dizer que “o BRICS é o novo nome do multilateralismo”
O novo mundo já nasceu e não será construído por uma potência isolada, mas pela soma de países que compartilham uma visão de futuro pautada pela justiça, pela igualdade e pela cooperação. Os países do BRICS apontam o caminho para a nova ordem que tem como objetivos finais o desenvolvimento inclusivo e a paz mundial, aspirações máximas da Humanidade. As ideias, como as que emergiram do Consenso de Yunnan, são a base para fomentar essa nova ordem. E a Iniciativa de Governança Global, lançada pela China, é um bom roteiro a seguir.
Se no passado a ordem internacional foi definida pela força militar e pelo domínio colonial, hoje ela é redesenhada pela cooperação, pelo diálogo e pela integração entre povos. O futuro, desta vez, não será imposto. Será construído coletivamente e todos nós somos parte deste processo.
Este artigo foi originalmente publicado pelo serviço em espanhol da agência Xinhua
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.