Bolívia: É hora de defender a democracia, a soberania e a unidade popular
A Bolívia é um país estratégico na América Latina, cujas riquezas são cobiçadas pelo imperialismo
Por José Reinaldo Carvalho - A Bolívia vive um momento crucial. Com as eleições presidenciais se aproximando, o cenário político está tenso, incerto e ameaçador para o projeto que transformou a história do país: o processo de mudanças progressistas iniciado em 2006, com a chegada de Evo Morales ao poder. Após séculos de exclusão, dominação colonial e submissão ao imperialismo, o povo boliviano conquistou avanços inéditos em soberania nacional, direitos sociais, reconhecimento dos povos indígenas e protagonismo internacional. Hoje, essas conquistas estão em perigo.
A Bolívia não é apenas uma nação andina de maioria indígena; é também um país estratégico para a América Latina, com vastas reservas de lítio, gás natural (embora em declínio e com capacidade de produção reduzida), água doce e biodiversidade. Essas riquezas despertam a cobiça das grandes potências, especialmente dos Estados Unidos, que não hesitam em apoiar forças reacionárias locais e promover ações desestabilizadoras, visando a dominar o país. O golpe em 2019 e a violenta repressão do governo ilegítimo de Jeanine Áñez são provas incontestáveis dessa interferência.
Neste contexto, é essencial fortalecer e aprofundar o projeto progressista iniciado por Evo Morales e continuado por Luis Arce desde 2020. A Bolívia precisa consolidar um modelo de desenvolvimento soberano, de justiça social e centrado na dignidade de seu povo. Embora o país enfrente desafios econômicos reais, as soluções não devem vir das fórmulas neoliberais que sempre o mantiveram dependente, nem do retorno a um passado de opressão e submissão.
A direita boliviana, revanchista e antidemocrática, já demonstrou suas intenções: atacar instituições, criminalizar lideranças indígenas e populares, fomentar o racismo e submeter os interesses nacionais a potências imperialistas. Se retornar ao poder, destruirá as conquistas sociais, privatizará as riquezas nacionais, desmontará políticas de inclusão e abandonará os princípios que fizeram da Bolívia um símbolo de soberania na América Latina.
No entanto, o maior risco para o campo popular não vem apenas do inimigo externo ou da oposição declarada, mas da divisão interna na esquerda. O conflito entre Evo Morales e Luis Arce, duas figuras fundamentais desse processo, ameaça dissipar o capital político construído em quase duas décadas. Pior ainda: abre espaço para que a direita explore essas fragilidades e retorne ao poder. A proposta de voto nulo de Evo Morales pode, na prática, facilitar um retrocesso histórico.
A Bolívia precisa de unidade, maturidade política e visão estratégica. Não se trata de ignorar divergências ou negar erros, mas de priorizar o essencial: defender o projeto de emancipação nacional, preservar as conquistas do Estado Plurinacional e garantir que o futuro seja construído com soberania popular, e não sob chantagens oligárquicas ou dominação estrangeira.
Essa responsabilidade vai além das fronteiras bolivianas. Um retrocesso no país teria impactos negativos em toda a América Latina, que busca fortalecer a integração regional, a cooperação e a resistência ao imperialismo. A Bolívia é peça-chave em iniciativas como a Celac, a ALBA e o BRICS+ como país parceiro. Sua queda seria um golpe para o mundo multipolar em consolidação, justo e livre das amarras do necolonialismo econômico e da hegemonia política do imperialismo estadunidense.
São justos os apelos por serenidade, responsabilidade histórica e união no campo progressista boliviano. Que prevaleça o compromisso com o povo, a democracia e a pátria. Que sejam superados personalismos, vaidades e interesses menores. Que Evo Morales e Luis Arce, com suas trajetórias heroicas e complementares, encontrem caminhos para a reconciliação, e não para o confronto. A Bolívia merece isso. E a América Latina também.
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