Bandido cá, bandido lá?
Histórico de fraudes de Paulo Figueiredo Neto, dentro e fora do Brasil, escancara hipocrisia de quem posa de moralista enquanto lucra na ilegalidade
Alguns nomes vêm ocupando espaço no noticiário nas últimas semanas. Entre eles, destaca-se o do empresário Paulo Figueiredo Neto.
Tanto ele quanto seu pai, Paulo Figueiredo Filho — respectivamente neto e filho do ditador João Figueiredo — tiveram seus nomes inscritos na Dívida Ativa da União por não pagarem multas que somam mais de R$ 100 milhões, impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O motivo: enquanto eram sócios de Donald Trump em um empreendimento para construir um hotel no Rio de Janeiro, cometeram os seguintes atos ilícitos: (a) operação fraudulenta no mercado de valores mobiliários; (b) transferência indevida de riqueza; (c) desvio de recursos e enriquecimento ilícito.
Apesar de se apresentar como jornalista, Paulo Figueiredo Neto atua, na prática, como lobista e operador do mercado financeiro.
As irregularidades cometidas por ele e pelo pai, durante a associação com Trump, resultaram em ganhos indevidos que ultrapassam os R$ 33 milhões.
As fraudes estão detalhadamente descritas no processo administrativo CVM nº 19957.007626/2019-94, cuja condenação foi imposta por unanimidade por um colegiado de três diretores da CVM. A decisão transitou em julgado, sem que os Figueiredo apresentassem recurso.
Foram também condenados os idealizadores do projeto, intermediários, gestoras e administradoras fiduciárias. Além da fraude, foram constatadas falhas nos deveres fiduciários, na avaliação de cotas e a atuação irregular de pessoas sem registro na CVM para distribuir cotas do FIP.
Mas os problemas não param por aí.
Nos Estados Unidos, uma empresa de Paulo Figueiredo Neto está sob investigação com base no Código de Falências e na Lei de Dívidas e Créditos de Nova York.
O caso diz respeito a uma falência que busca recuperar transferências ligadas a uma fraude bilionária liderada por um aliado de Trump: o magnata chinês Miles Guo. Apresentado como uma “pessoa de bem”, Guo foi condenado por nove crimes, incluindo lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Autoexilado nos EUA desde 2015, Guo foi financiador de Steve Bannon — ex-estrategista de Donald Trump — e aliado da família Bolsonaro.
Ele também foi apontado pela Justiça dos EUA como o verdadeiro controlador da rede social Gettr, plataforma que patrocinou eventos de apoio à reeleição de Jair Bolsonaro em 2022. O ex-CEO da Gettr, Jason Miller, mantém relação próxima com Eduardo Bolsonaro.
Preso desde março de 2023, Guo ficou conhecido por seu discurso contra o governo chinês e por apoiar a extrema direita nos EUA. É também um dos responsáveis por disseminar teorias conspiratórias sobre a origem da Covid-19. Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, ele chegou a pagar ao menos US$ 1 milhão a Steve Bannon.
Reportagem publicada em 2024 pela revista Mother Jones — publicação norte-americana independente, sem fins lucrativos, dedicada a jornalismo investigativo — revelou que esse montante teria sido destinado a serviços de consultoria em empreendimentos de mídia vinculados a Guo. Entre eles, um grupo fundado por ele e Bannon, que se apresentava como um “governo paralelo” ao Partido Comunista Chinês.
Guo teria enganado milhares de seguidores ao induzi-los a investir em negócios sob seu controle, desviando mais de US$ 1 bilhão para financiar uma vida de luxo.
De acordo com o Departamento de Justiça dos EUA, Paulo Figueiredo recebeu R$ 770 mil do magnata chinês — pagamento que hoje é alvo de investigação judicial nos EUA.
Paulo foi notificado pela Justiça americana, mas não respondeu dentro do prazo legal. O processo, agora, tramita à sua revelia.
A Gettr, rede social de viés bolsonarista, chegou ao Brasil em julho de 2021 e passou a propagar desinformação a favor do ex-presidente Jair Bolsonaro. A plataforma está na mira da Polícia Federal (PF), no âmbito do inquérito das milícias digitais, que apura a existência de uma organização criminosa atuando na internet contra a democracia brasileira.
Jason Miller, ex-CEO da Gettr, visitou o Brasil diversas vezes e esteve presente no ato bolsonarista de 7 de setembro de 2022, em Copacabana. Naquele ano, o perfil “Gettr Brasil Oficial” atuou diretamente na campanha de reeleição de Bolsonaro: promoveu sua imagem, transmitiu suas lives, divulgou sua agenda e organizou conversas com apoiadores.
Em uma das visitas ao país, para participar da CPAC (Conservative Political Action Conference), em 2021, Miller foi interrogado pela PF no âmbito do inquérito das milícias digitais. Em entrevista concedida em 2025, Eduardo Bolsonaro creditou a ele o feito de “chamar a atenção do presidente Trump para o que está acontecendo no Brasil”.
A PF sustenta que a estratégia de comunicação da rede de apoiadores de Jair Bolsonaro, especialmente nas tentativas de desacreditar as urnas eletrônicas, reproduziu a mesma tática usada por Donald Trump nas eleições de 2016 nos EUA — tática atribuída a Steve Bannon.
Em resumo, como diz o ditado popular, "o buraco é mais embaixo". Paulo Figueiredo parece ser bandido cá e bandido lá.
Essas são as impressões que compartilho para o necessário debate.
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