Julimar Roberto avatar

Julimar Roberto

Comerciário e presidente da Contracs-CUT

246 artigos

HOME > blog

A vergonha que paralisou o Congresso

O que precisa ficar de lição, diante de uma cena tão vergonhosa, é que a escolha dos nossos representantes é um ato sério

Oposição de extrema direita ocupa Congresso contra prisão de Bolsonaro (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Nesta semana, tivemos um retrato vívido do que se tornou o Congresso Nacional: um antro de idiocratas de atitudes ridículas e motivações vis. Num jogo midiático banhado de pura estupidez, deputados e senadores bolsonaristas interromperam os trabalhos no Parlamento em reação à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. A ocupação impediu a abertura das sessões legislativas, com parlamentares usando esparadrapos sobre a boca, ouvidos e olhos, e correntes nos braços — uma encenação grotesca que remete às propagandas nazistas distribuídas por Hitler, em 1928.

É absolutamente inadmissível que políticos eleitos para representar os interesses da nação usem o poder que lhes foi confiado pelo povo para promover politicagem barata e vergonhosa, agindo como cúmplices no desmonte do Estado de Direito. Suas atitudes chocam pela infantilidade e pelo escárnio com o dever público e com a própria democracia. Ao obstruírem o Congresso, demonstraram total desprezo pelo papel institucional que deveriam cumprir, o de legislar em favor da população. Enquanto encenavam protestos em defesa de um réu por tentativa de ruptura democrática – e tantos outros crimes -, o país aguardava a aprovação de pautas urgentes, como a proposta de isenção de imposto de renda para quem recebe até dois salários mínimos (aproximadamente R$ 3 mil), cuja validade expira já na próxima segunda-feira (11) e que impacta diretamente a vida dos mais pobres.

Na Câmara, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) demonstrou firmeza diante do circo armado pela oposição bolsonarista que começou na tarde de terça-feira (5). Criticou a obstrução, classificando-a como inaceitável e incompatível com a responsabilidade parlamentar, e chegou a ameaçar sanções regimentais, como a suspensão de mandatos por até seis meses. Em meio a empurra-empurra, gritaria e encenações, Motta conseguiu reassumir a presidência da Casa e abrir a sessão na quarta-feira (6), declarando com clareza que "a democracia não se negocia" e que a Câmara dos Deputados precisa preservar sua dignidade institucional. Sua condução, ainda que breve, foi um gesto de resistência simbólica contra o uso político do Legislativo como palanque golpista.

Já no Senado, a resposta institucional foi mais direta e eficiente. Na manhã de quinta-feira (7), sob a liderança do presidente Davi Alcolumbre (União-AP), os senadores retomaram os trabalhos com firmeza e, em apenas 15 minutos, aprovaram o projeto de Isenção do IR que estava ameaçado pela paralisia causada pelos protestos. Alcolumbre afirmou que não aceitaria “intimidações nem tentativas de constrangimento à Presidência do Senado”, ressaltando que o Parlamento não pode ser refém de ações que buscam desestabilizar o seu funcionamento. A postura foi elogiada até mesmo por adversários políticos.

Apesar das tentativas da extrema direita de transformar o Congresso num palco de guerra política e ideológica, ainda há, felizmente, vozes e gestos de resistência institucional que compreendem o peso do cargo que ocupam. O contraste entre a palhaçada bolsonarista e a responsabilidade dos presidentes das Casas Legislativas reforça a urgência de um debate mais sério sobre o papel do Parlamento e sobre a qualidade da nossa representação política.

O que precisa ficar de lição, diante de uma cena tão vergonhosa, é que a escolha dos nossos representantes é um ato sério, que deve ser feito com consciência, responsabilidade e parcimônia. O que vimos na Câmara dos Deputados também recai sobre os ombros de quem colocou esses parlamentares ali. Por isso, é preciso soar o alerta desde já, pois 2026 é ano eleitoral, e nossas Casas de Lei não podem continuar sendo transformadas em palcos de escárnio — muito menos em pocilgas ou currais a serviço de projetos autoritários e antidemocráticos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...