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Julimar Roberto

Comerciário e presidente da Contracs-CUT

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Pix: a jabuticaba digital que desafia os Estados Unidos

Defender o Pix é defender mais do que um meio de pagamento

Pix (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

Os recentes ataques de Donald Trump ao Pix não são apenas uma crítica pontual a um sistema de pagamento estrangeiro. Eles revelam uma ofensiva coordenada contra um modelo que ameaça os lucros bilionários de corporações americanas. Ao anunciar uma possível investigação comercial contra o Brasil por supostas práticas desleais ligadas ao Pix, o presidente dos Estados Unidos deixa claro que está disposto a proteger os interesses de empresas como Visa, Mastercard e até da Meta, que vêm perdendo espaço diante da popularização do sistema brasileiro de pagamentos instantâneos.

O Pix, lançado em novembro de 2020 pelo Banco Central do Brasil, revolucionou a forma como os brasileiros lidam com o dinheiro. Atualmente, cerca de 76% da nossa população utiliza o Pix regularmente, um percentual superior ao dos que usam cartão de débito ou dinheiro em espécie, daí a bronca norte-americana.

Essa forma de transação bancária exclusivamente tupiniquim vem do seu modelo de inclusão e eficiência. Pessoas físicas não pagam tarifas e, para as empresas, as taxas são irrisórias, girando em torno de 0,2% a 0,3% por transação, enquanto os cartões de crédito chegam a cobrar entre 1% e 5%, além de imporem prazos longos para liquidação dos valores. Isso abalou diretamente o modelo de negócios das operadoras de cartões e instituições financeiras que lucram com tarifas, juros e intermediações. O próprio WhatsApp Pay, ligado à Meta, ainda enfrenta limitações de mercado no Brasil, enquanto o Pix se consolidou como uma infraestrutura pública essencial para a economia.

Nesse cenário, Trump faz do Pix um alvo de sua agenda protecionista e nacionalista. Em discurso recente, ao defender uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil, ele alegou a existência de subsídios injustos e concorrência desleal no setor financeiro. Ainda que o foco declarado seja o comércio em geral, o Pix surge como símbolo de uma tecnologia nacional que rompe com o domínio das empresas americanas no setor financeiro e digital.

O que está em jogo vai além de uma disputa comercial. Trata-se de um embate entre dois modelos econômicos. De um lado está o modelo público, gratuito e interoperável do Pix, que promove inclusão financeira, reduz a informalidade e dinamiza a economia local. Do outro lado está o modelo privatizado, caro e concentrado das operadoras internacionais de cartão e das grandes fintechs globais, que operam sob a lógica da maximização de lucro e concentração de mercado.

A resposta brasileira foi rápida e contundente. O presidente Lula classificou o Pix como um patrimônio nacional e destacou seu papel estratégico na soberania tecnológica e financeira do país. A diplomacia brasileira rejeitou as insinuações de Trump e reforçou que qualquer tentativa de interferência externa para frear a expansão do sistema seria considerada inaceitável.

O avanço do Pix, aliás, segue em ritmo acelerado. A previsão é que, em setembro deste ano, seja lançado o Pix Parcelado, que permitirá compras em prestações com juros mais baixos, oferecendo uma alternativa direta ao crédito rotativo dos cartões. Também está em desenvolvimento o Pix Automático, voltado para cobranças recorrentes, com potencial de movimentar mais de 30 bilhões de dólares no comércio eletrônico nos próximos dois anos.

Defender o Pix, portanto, é defender mais do que um meio de pagamento. É reafirmar o direito do Brasil de desenvolver sua própria tecnologia, reduzir a dependência de sistemas estrangeiros e garantir que a inclusão financeira não seja um privilégio administrado por grandes corporações, mas sim um direito assegurado por uma política pública eficiente, moderna e acessível a todos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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