Protestos no Equador entram no 17º dia com novos confrontos e bloqueios de estradas
Mobilizações indígenas seguem em várias províncias enquanto cresce a tensão com o governo de Daniel Noboa
247 - Os protestos no Equador chegaram nesta quarta-feira (8) ao 17º dia consecutivo, com registros de repressão policial, bloqueios de estradas e mobilizações em diferentes regiões do país. As manifestações, organizadas principalmente pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), intensificaram-se após a decisão do governo de eliminar o subsídio ao diesel.
De acordo com informações divulgadas pela Prensa Latina, a Fundação Regional de Assessoria em Direitos Humanos (Inredh) denunciou que houve “forte repressão” na comunidade de San Miguel del Común, no norte de Quito. A entidade afirma que policiais usaram em excesso gás lacrimogêneo e balas de borracha, o que deixou pelo menos uma pessoa ferida, além de outras vítimas levadas a hospitais.
Denúncias de violência policial e resistência indígena
Segundo a Conaie, agentes da polícia entraram na comunidade de forma violenta, lançando bombas de gás inclusive nas proximidades de escolas e residências, ignorando a presença de crianças e idosos. A organização relatou ainda que comunidades da província de Imbabura marcharam em direção à cidade de Ibarra em uma “jornada de resistência e dignidade”.
O Serviço Integrado de Segurança ECU 911 confirmou o fechamento de rodovias em três províncias — Chimborazo, Imbabura e Pichincha — em decorrência das manifestações.
Ataque à comitiva presidencial gera controvérsia
As tensões aumentaram após um episódio na província de Cañar, no sul do país, quando a comitiva do presidente Daniel Noboa foi atacada durante protestos em El Tambo. O governo afirma que cerca de 500 pessoas lançaram pedras contra os veículos oficiais e que havia inclusive marcas de tiros no carro do presidente. A ministra do Meio Ambiente e Energia, Inés Manzano, apresentou denúncia ao Ministério Público, alegando tentativa de assassinato de Noboa.
No entanto, um relatório da Polícia Nacional, revelado pelo jornal El Mercurio, contradiz a versão do Executivo. O documento aponta que não foram encontradas “evidências balísticas” após o ataque, mas sim danos provocados por objetos contundentes, que feriram um policial e três militares.
Conaie rejeita acusações de tentativa de homicídio
A Conaie repudiou as acusações do governo e afirmou que a entrada da comitiva presidencial em uma “zona de resistência” foi uma provocação deliberada. “O Estado deve garantir a segurança do presidente sem expor a população civil ou usar visitas oficiais como provocação política. Essas decisões refletem a postura belicosa do governo Daniel Noboa”, declarou a organização em comunicado.
Segundo a entidade, os veículos oficiais foram apedrejados, mas não alvejados por armas de fogo, como alegado anteriormente pelo Executivo.
Reivindicações além do preço do combustível
Embora a eliminação do subsídio ao diesel tenha sido o estopim, as reivindicações vão além do tema energético. Os manifestantes também exigem melhorias em áreas como saúde, educação e segurança pública, além da redução do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) de 15% para 12%.
De acordo com dados do Ministério do Interior, 117 pessoas foram presas desde o início das manifestações, cinco delas somente no último dia. O impasse segue sem perspectiva de diálogo direto entre o governo e os movimentos sociais, ampliando a incerteza sobre a evolução da crise no país andino.