Premiada com Nobel da Paz, María Corina Machado é amplamente rejeitada na Venezuela
Pesquisa aponta que 91% dos venezuelanos têm visão negativa sobre María Corina e 83% são contra ação militar estrangeira
247 - A entrega do Prêmio Nobel da Paz à dirigente opositora venezuelana María Corina Machado tem provocado forte rejeição dentro e fora do país. Críticas apontam que sua trajetória política é marcada pelo apoio a intervenções militares, tentativas de golpe e sanções contra a Venezuela, relata a teleSUR.
O jornalista Ignacio Ramonet reagiu com dureza à decisão do comitê do Nobel: “Conceder o prêmio da paz a quem não cessou de clamar por invasões militares, golpes de Estado, guarimbas e guerras é mais uma aberração do atual desordenamento internacional. É o mundo de cabeça para baixo. É tornar realidade a distopia de Orwell em '1984', na qual a verdade é a mentira e a paz é a guerra. Triste Nobel putrefato”.
Rejeição popular e dados da opinião pública
Apesar da comemoração por parte de partidos de direita e extrema-direita em diversos países, pesquisas revelam a rejeição da maioria dos venezuelanos a Machado. De acordo com um levantamento realizado pela Hinterlaces em 8 de outubro de 2025, 91% dos entrevistados expressaram opinião desfavorável sobre a opositora, tornando-a a liderança mais impopular entre os políticos nacionais. O estudo foi feito com 1,2 mil entrevistas e margem de erro de 3%.
Outro dado relevante mostra que 83% da população afirma estar disposta a resistir a uma eventual intervenção militar estrangeira, enquanto 89% acredita que o objetivo central de uma ofensiva seria controlar as reservas de petróleo do país.
Atlas Network e a articulação internacional
O nome de María Corina Machado também aparece vinculado à Atlas Network, organização internacional criada em 1981 por Sir Antony Fisher, no Reino Unido, e que mantém sede nos Estados Unidos. A rede contou em 2023 com um orçamento superior a US$ 28 milhões, dos quais mais de US$ 2 milhões foram destinados a projetos na América Latina.
Guillermo Fernández Vázquez, professor de Ciência Política da Universidade Carlos III de Madrid, destacou que a Atlas é “uma rede muito influente e sobretudo muito completa”, exercendo papel importante na geração de discursos neoliberais e libertários, especialmente em momentos em que tais ideias pareciam enfraquecidas.
Entre os partidos ligados à rede estão o espanhol VOX, o argentino La Libertad Avanza de Javier Milei, além de setores republicanos dos Estados Unidos liderados pelo presidente Donald Trump. Jair Bolsonaro (PL) também figura nesse alinhamento político.
Embora dirigentes da Atlas Network neguem repasse direto de recursos ao partido Vente Venezuela, fundado por Machado, confirmam apoio financeiro a instituições parceiras como o CEDICE Libertad, alinhadas aos mesmos valores políticos e ideológicos.
Relações com líderes internacionais
A atuação internacional de María Corina Machado remonta a anos anteriores. Em dezembro de 2018, a opositora enviou uma carta pedindo proteção aos governos de Mauricio Macri na Argentina e Benjamin Netanyahu em Israel para pressionar por ações contra a Venezuela no Conselho de Segurança da ONU.
No caso de Netanyahu, observadores destacam que o apelo de Machado dialoga com a postura militarista do premiê israelense, refletindo seu histórico de defesa de uma intervenção externa no país. Já Macri, um dos principais defensores das políticas neoliberais na Argentina, segue até hoje declarando apoio à dirigente venezuelana.
A disputa pela narrativa internacional
A concessão do Nobel a María Corina Machado se insere, segundo analistas citados pela teleSUR, em uma estratégia de guerra psicológica para legitimar pressões externas contra a Venezuela. A narrativa, afirmam, busca preparar terreno para justificar futuras ações de ingerência internacional.
Enquanto celebrações acontecem entre setores conservadores no exterior, dentro da Venezuela o cenário é o oposto: a rejeição popular é majoritária, revelando o abismo entre a percepção internacional construída por aliados políticos de Machado e a realidade vivida pela maioria dos cidadãos.


