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China transforma feriado de oito dias em vitrine para impulsionar consumo interno

Cidades chinesas utilizam cultura, tecnologia e turismo sustentável para converter a “super golden week” em motor econômico

Turismo na China durante feriado (Foto: Xinhua)

247 - Durante a chamada “super golden week”, o feriado de oito dias que uniu as celebrações do Dia Nacional e do Festival do Meio Outono, a China deu uma demonstração prática de como transformar lazer em impulso econômico. A série de eventos espalhados por todo o país mostrou como o investimento em experiências culturais imersivas e personalizadas pode estimular o consumo e fortalecer o turismo interno.

De acordo com a agência Xinhua, cidades de diferentes regiões adotaram estratégias criativas para manter o entusiasmo do feriado como motor de crescimento. Em Chengdu, na província de Sichuan, o símbolo nacional do panda gigante se tornou o eixo central de uma iniciativa que aliou cultura, comércio e turismo. O governo provincial lançou o quarto Festival Internacional de Consumo do Panda, apoiado por 400 milhões de yuans (aproximadamente 56,3 milhões de dólares) em vouchers de incentivo para alimentação, bebidas e viagens.

Chengdu: o panda como motor econômico

A capital de Sichuan promoveu mais de 600 eventos, incluindo conferências gastronômicas e feiras noturnas que uniram a culinária típica ao entretenimento. Restaurantes de hotpot se transformaram em palcos culturais, com apresentações de ópera de Sichuan, enquanto ruas inteiras foram decoradas com esculturas e caixas de correio temáticas. Um representante do Departamento Provincial de Comércio destacou: “Queremos transformar o entusiasmo festivo em uma força duradoura, unindo inovação e integração setorial”.

A filosofia do “viver bem”, marca do estilo de vida em Sichuan, foi fortalecida com 40 novos espaços de consumo, entre ciclovias panorâmicas, casas de chá ao ar livre e áreas de compras sofisticadas.

Fujian: tradição e sustentabilidade

Na província costeira de Fujian, o foco foi o patrimônio cultural e o turismo sustentável. Mais de 180 eventos celebraram tradições locais, desde feiras de artesanato até oficinas de técnicas ancestrais. Em Xiamen, o festival de lanternas em um jardim botânico se destacou pela fusão entre arte tradicional e tecnologia moderna. “Queremos fortalecer a economia noturna, preservar a cultura e proteger o meio ambiente”, afirmou Yu Hongping, gerente da Xiamen Cultural Tourism Investment Development Group.

Em Fuzhou, o centro histórico serviu de palco para manifestações artísticas locais, como o Pinghua e o Chiyi, narrativas orais típicas da região. O evento também promoveu oficinas sobre o uso do jasmim em perfumes tradicionais, atraindo grande público interessado em experiências participativas.

Henan: história e tecnologia de mãos dadas

No coração da China, a província de Henan apostou em uma combinação poderosa de arqueologia e inovação. Em Zhengzhou, visitantes puderam circular entre ruínas da Dinastia Shang e templos da Dinastia Han enquanto assistiam a espetáculos de luz e exposições sobre arquitetura antiga. “Este é um ‘salão de convivência urbana’, onde cultura e negócios se complementam”, explicou Liu Changhui, responsável pela operação do projeto.

A digitalização também ganhou espaço. No parque temático Millennium City de Kaifeng, um cinema em formato de domo utilizou tecnologia IMAX para colocar o público “dentro” de uma pintura clássica da Dinastia Song. “O cinema ficou lotado durante todo o feriado; muitas famílias voltaram para assistir mais de uma vez”, contou Xing Xiaoyue, do departamento de marketing do parque.

Turismo inteligente e sustentável

Em Anyang, visitantes exploraram o Museu Yinxu com o auxílio de óculos de realidade virtual, que recriavam rituais de adivinhação com inscrições oraculares de mais de 3 mil anos. Desde 2021, Henan já criou 60 espaços turísticos inteligentes, combinando patrimônio histórico e alta tecnologia.

No nordeste, a província de Jilin destacou a importância do turismo ecológico no Monte Changbai, limitando o número diário de visitantes e integrando serviços como ingressos, hospedagem e fontes termais em um único aplicativo. “Pretendo voltar no inverno para esquiar e gastar alguns milhares de yuans”, disse o turista Zhang Han, de Liaoning.

Xinjiang e o novo perfil do viajante chinês

No extremo noroeste, a cidade histórica de Kuqa, em Xinjiang, transformou suas festas tradicionais em atração turística. Com degustações gratuitas, danças típicas e trajes regionais, o destino recebeu quase 300 mil visitantes em apenas quatro dias, gerando 165 milhões de yuans em receitas.

Analistas destacam que o feriado revelou uma mudança clara no comportamento dos viajantes. Segundo Shen Jiani, pesquisadora da plataforma Trip.com, o turismo de “check-in”, baseado apenas em fotos e passagens rápidas, dá lugar a experiências mais profundas e personalizadas.

Zhang Xiaoyu, secretário-geral da Associação de Turismo de Xinjiang, reforçou essa tendência: “Os consumidores estão mais racionais e buscam experiências autênticas, com boa relação custo-benefício. Eles estão dispostos a pagar por aquilo que realmente entrega valor e emoção”.

A “super golden week” deste ano mostrou, assim, como a China alia tradição e inovação para transformar um feriado em vitrine de desenvolvimento econômico, reafirmando a força de seu mercado interno e sua aposta em um modelo de turismo sustentável e culturalmente integrado.

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