Modi visita China pela primeira vez desde 2018 em meio a tensão com os EUA

247 - O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, fará uma visita oficial à China entre os dias 31 de agosto e 1º de setembro para participar da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX). A informação foi publicada nesta terça-feira (6) pelo jornal Hindustan Times, citando fontes próximas ao governo indiano, destaca reportagem do site RT..

Antes de desembarcar em solo chinês, Modi visitará o Japão em 30 de agosto para participar da cúpula anual Índia-Japão, ocasião em que se reunirá com o primeiro-ministro Fumio Kishida. Após o encontro bilateral em Tóquio, Modi seguirá diretamente para a China.

Esta será a primeira visita do líder indiano ao país vizinho desde 2018, quando participou de encontros com o presidente chinês Xi Jinping em Wuhan e Qingdao. O retorno acontece após um período prolongado de distanciamento entre as duas potências asiáticas, marcado por tensões diplomáticas e militares. 

O último encontro entre Modi e Xi havia ocorrido em 2024, durante a cúpula dos BRICS realizada em Kazan, na Rússia, quando foi iniciado um processo de reaproximação cautelosa entre Nova Délhi e Pequim. A participação de Modi na cúpula da OCX é vista como mais um passo nessa direção.

O gesto diplomático também ocorre em um momento em que as relações entre Índia e Estados Unidos enfrentam crescente deterioração. Recentemente, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que impõe tarifas de 25% sobre produtos indianos, em resposta à decisão de Nova Délhi de manter a importação de petróleo russo.

As medidas provocaram forte reação do governo indiano, que classificou as sanções como "injustas e irracionais". Em nota, o governo afirmou que as importações de petróleo russo representam uma "necessidade imposta pelas condições do mercado global", reiterando que sua política energética é guiada pela segurança nacional e pelo interesse de seus cidadãos.

A Rússia também condenou a postura de Washington. Segundo o governo de Moscou, as ações do presidente Trump configuram "ameaças inaceitáveis" e visam interferir na soberania das decisões econômicas de países parceiros.

A aproximação da Índia com a China, mesmo que limitada à participação em fóruns multilaterais como a OCX, tem potencial de reposicionar o país no xadrez geopolítico asiático, em meio à escalada de tensões entre as principais potências globais. Analistas observam que Modi busca preservar a autonomia estratégica indiana, mantendo diálogo com diversos polos de poder — mesmo diante de pressões e disputas internacionais.

A cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, fundada em 2001 e composta por países da Ásia Central, China, Rússia, Índia, Paquistão, Irã e outros Estados observadores, tem ganhado relevância como espaço alternativo de articulação política, econômica e de segurança, fora da esfera de influência ocidental.

A expectativa é que o encontro em solo chinês sirva também para retomar canais diplomáticos entre Índia e China, ainda abalados pelas disputas fronteiriças e pela crescente competição estratégica no Indo-Pacífico. Ao mesmo tempo, a viagem sinaliza que Nova Délhi não pretende ceder às imposições unilaterais da Casa Branca e reforça sua busca por uma política externa de múltiplos alinhamentos.