Minnie Vautrin, Gregori Kulishenko e Qian Xiuling: heróis esquecidos que salvaram vidas durante a Segunda Guerra

247 – Reportagem publicada pelo Cambodianess destaca histórias de personagens pouco conhecidos da Segunda Guerra Mundial, mas que se tornaram símbolos de humanidade em meio à barbárie. Minnie Vautrin, missionária americana em Nanquim; Gregori Kulishenko, piloto soviético que combateu no céu da China; e Qian Xiuling, química chinesa que viveu na Bélgica ocupada, arriscaram a própria vida para salvar milhares de inocentes.

Minnie Vautrin: a guardiã de Nanquim

No campus da Universidade Normal de Nanquim, uma estátua em bronze homenageia Minnie Vautrin, missionária americana que dedicou 25 anos de sua vida à China. Em dezembro de 1937, quando tropas japonesas invadiram Nanquim e deram início a um dos episódios mais cruéis da história — o Massacre de Nanquim —, Vautrin recusou a ordem de evacuação e decidiu permanecer.

“Esta é a minha missão; assim como os homens não devem abandonar seus navios em perigo, as mulheres não devem abandonar suas crianças”, escreveu em seu diário. Transformando o Ginling College em refúgio, ela protegeu cerca de 10 mil mulheres e crianças dos estupros, assassinatos e saques cometidos pelos invasores.

Todos os dias, Vautrin permanecia diante dos portões para impedir que soldados japoneses entrassem. Seus relatos pessoais se tornaram provas essenciais dos crimes cometidos. O trauma, no entanto, deixou marcas profundas. Em 1940, ela sofreu um colapso nervoso e retornou aos Estados Unidos, onde acabou tirando a própria vida no ano seguinte, aos 55 anos.

Gregori Kulishenko: o piloto que deu a vida pela China

Outro herói lembrado é o ucraniano Gregori Kulishenko, capitão de uma esquadra soviética enviada em 1939 para auxiliar a China contra os bombardeios japoneses. Além de treinar pilotos chineses com rigor e disciplina, ele participou ativamente dos combates, abatendo dezenas de aeronaves inimigas.

Em 14 de outubro de 1939, após destruir seis caças japoneses, seu avião foi atingido. Gravemente ferido, Kulishenko recusou-se a saltar de paraquedas e tentou pousar no rio Yangtzé para evitar vítimas civis nas aldeias próximas. Dois tripulantes sobreviveram, mas ele morreu aos 36 anos.

Desde 1958, uma família chinesa mantém seu túmulo em Chongqing, como prova de que seu sacrifício jamais seria esquecido.

Qian Xiuling: a chinesa que enfrentou os nazistas

A cidade belga de Écaussinnes abriga uma rua com o nome de Qian Xiuling, química chinesa que, mesmo grávida, desafiou as forças de ocupação nazistas e salvou quase 100 vidas.

Em 1943, quando um jovem da resistência local foi condenado à morte, ela intercedeu junto ao general alemão Alexander von Falkenhausen, conhecido de sua família, e conseguiu que a execução fosse suspensa. No ano seguinte, após uma ação da resistência que matou oficiais da Gestapo, 100 civis foram presos e ameaçados de execução.

“Não podia ficar parada vendo inocentes morrerem”, recordou anos mais tarde. Depois de viajar até Bruxelas sob forte vigilância, convenceu Falkenhausen a libertar os reféns. Como resultado, 19 foram soltos imediatamente e os demais escaparam do fuzilamento. Em reconhecimento, recebeu do governo belga a Medalha da Gratidão.

A lição que transcende fronteiras

As histórias de Vautrin, Kulishenko e Qian Xiuling mostram que a bravura não se restringe a soldados em campo de batalha. Eles vieram de diferentes países e falavam diferentes línguas, mas diante da violência escolheram proteger vidas.

O legado desses heróis anônimos inspira novas gerações e reforça o valor universal da compaixão. Em um mundo ainda marcado por guerras e intolerância, seus exemplos ecoam como um chamado à paz, à justiça e à solidariedade.