Nathalia Urban por Milenna Saraiva

Esta seção é dedicada à memória da jornalista Nathalia Urban, internacionalista e pioneira do Sul Global

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China anuncia cortes inéditos de emissões e desafia negacionismo climático dos Estados Unidos

Em discurso na ONU, Xi Jinping promete reduzir emissões até 2035, amplia aposta em energia limpa e critica retrocesso dos EUA sob Donald Trump

O presidente chinês Xi Jinping discursa na reunião SCO Plus em Tianjin, no norte da China, em 1º de setembro de 2025 (Foto: Xinhua)

247 – A China anunciou nesta quarta-feira (24) seu primeiro plano de cortes efetivos de emissões de gases de efeito estufa, marcando uma mudança histórica em sua política climática. A informação foi divulgada pela Reuters, que acompanhou o discurso do presidente Xi Jinping durante a Cúpula de Líderes pelo Clima, realizada à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York.

Em uma fala transmitida por vídeo de Pequim, Xi declarou que até 2035 a China reduzirá suas emissões entre 7% e 10% em relação ao pico. Além disso, anunciou que o país multiplicará por seis a capacidade instalada de energia solar e eólica em relação a 2020, elevando a participação de fontes não fósseis para mais de 30% do consumo energético doméstico na próxima década.

 “A transformação verde e de baixo carbono é a tendência do nosso tempo. Apesar de alguns países irem contra essa tendência, a comunidade internacional deve permanecer no caminho certo, manter confiança inabalável, ação inabalável e esforços inabaláveis”, afirmou Xi Jinping.

Crítica indireta aos EUA

A fala de Xi foi uma resposta indireta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que um dia antes, no mesmo palco da ONU, voltou a negar a ciência climática. Trump chamou a mudança climática de “conversa fiada”, atacou cientistas, acusando-os de serem “estúpidos”, e anunciou uma segunda retirada dos EUA do Acordo de Paris, assinado em 2015.

Trump também criticou a União Europeia e a própria China por adotarem tecnologias limpas, reafirmando a opção de Washington por combustíveis fósseis. A decisão norte-americana, segundo especialistas, abre espaço para que Pequim assuma protagonismo global no setor de energia limpa.

Ian Bremmer, cientista político do Belfer Center, avaliou que o discurso de Trump equivale a ceder à China o domínio da economia pós-carbono:

 “Trump quer combustíveis fósseis e os Estados Unidos são de fato um petro-Estado poderoso. Mas deixar que a China se torne o único eletro-Estado poderoso do mundo é o oposto de tornar a América grande novamente... ao menos se você se importa com o futuro”, disse Bremmer.

Compromissos ainda insuficientes

Apesar da novidade, analistas apontaram que o compromisso chinês foi tímido frente ao potencial de sua economia verde. Li Shuo, diretor do China Climate Hub da Asia Society, destacou que Pequim manteve sua tradição de decisões cautelosas, mas ressaltou que sua liderança em energias renováveis pode impulsionar um papel mais ativo no cenário internacional.

 “O compromisso de Pequim representa um movimento cauteloso que estende uma tradição política de priorizar decisões estáveis e previsíveis, mas também esconde uma realidade econômica mais significativa”, afirmou Li.

A pressão global e o papel do Brasil

Na mesma cúpula, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou maior ambição das potências globais. O Brasil se comprometeu a reduzir emissões entre 59% e 67% até 2035 e a intensificar o combate ao desmatamento.

 “A sociedade vai deixar de acreditar em seus líderes. E todos nós perderemos, porque o negacionismo pode de fato vencer”, alertou Lula.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu avanços desde o Acordo de Paris, mas advertiu que as novas metas ainda estão aquém do necessário.

 “Agora, precisamos de novos planos para 2035 que avancem muito mais rápido”, disse Guterres.

Outros compromissos internacionais

  •  União Europeia: pretende reduzir emissões entre 66% e 72% até 2035.
  •  Austrália: anunciou cortes de 62% a 70% em relação a 2005.
  •  Palau: em nome da Aliança dos Pequenos Estados Insulares, prometeu reduzir 44% em relação a 2015.

Os anúncios reforçam a pressão para a COP30, que será realizada em novembro no Brasil, mas também revelam a distância entre as promessas e o que a ciência indica como necessário para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

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