Viagem de Zema a El Salvador custou R$ 197 mil e teve foco em marketing, não em segurança
Governador mineiro usou recursos públicos para visitar o país de Bukele com comitiva dominada por assessores de comunicação
247 - Uma viagem oficial do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), a El Salvador, realizada em maio, teve custo total de R$ 197 mil aos cofres públicos estaduais. A informação foi revelada pela Folha de S.Paulo, com base em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação e do Portal da Transparência.
Segundo o levantamento, os gastos envolveram passagens aéreas, diárias de servidores, hospedagem do governador e despesas extras como intérprete e aluguel de van. Apesar do discurso oficial de interesse em conhecer o modelo de segurança pública do governo salvadorenho de Nayib Bukele, apenas um integrante da comitiva era ligado diretamente à área: o secretário de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco. Dos outros seis membros, quatro são da equipe de comunicação do governador.
Ausência de Bukele e foco em redes sociais - Zema não chegou a se encontrar com o presidente de El Salvador, mas teve reuniões com o vice-presidente, Félix Ulloa, além de visitas a comunidades e entrevistas à imprensa local. Ao longo dos cinco dias no país da América Central, o governador mineiro produziu intensamente conteúdo para suas redes sociais.
A justificativa oficial para a visita foi a suposta inspiração no modelo de segurança de Bukele, que reduziu drasticamente os índices de violência no país. No entanto, essa queda veio acompanhada de um estado de exceção permanente e prisões em massa, que incluem inocentes, conforme denunciado por organizações de direitos humanos.
Questionado pela Folha sobre os resultados concretos da viagem para a população mineira, o governo de Minas não respondeu.
Contradições entre discurso e realidade em Minas - A viagem faz parte da estratégia de Zema para projetar nacionalmente seu nome como presidenciável em 2026. Aliado de Jair Bolsonaro (PL), o governador mineiro tenta herdar o espólio eleitoral do ex-presidente, inelegível até 2030 por decisão da Justiça Eleitoral.
A segurança pública tem ganhado destaque nas falas e publicações de Zema, que chegou a reproduzir em vídeo uma teoria conspiratória anteriormente divulgada por Bukele sobre áreas dominadas por facções nos Estados Unidos — usada por ele como argumento para criticar a política nacional de segurança.
No entanto, em Minas Gerais, os desafios da área são crescentes. Facções do Rio de Janeiro têm avançado sobre o território mineiro, como no caso do Terceiro Comando Puro (TCP), que ocupou por anos uma comunidade em Belo Horizonte. Uma operação em novembro de 2023 resultou na prisão de 14 suspeitos e desmobilização da quadrilha, segundo a polícia.
Além disso, moradores da região metropolitana da capital têm divulgado nas redes sociais cenas de confrontos armados entre grupos rivais, e Zema enfrenta pressão de policiais por conta da ausência de reajuste salarial nos últimos anos — uma das razões que levou o PL a deixar a base aliada do governo na Assembleia Legislativa.
Indicadores e realidades - De acordo com o Atlas da Violência 2024, publicado pelo Ipea, Minas Gerais foi o quarto estado com menor taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes em 2023. Contudo, os dados mostram um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior, o que acende um alerta sobre a efetividade da política de segurança estadual.
A viagem a El Salvador, marcada por alto custo, baixa interlocução técnica e forte presença de profissionais de comunicação, reforça a leitura de que o objetivo foi mais político-eleitoral do que institucional.
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