“Não esquecer para jamais se repetir”, diz Alckmin em ato que marca 50 anos da morte de Vladimir Herzog
Evento ecumênico em São Paulo homenageia vítimas da ditadura e destaca compromisso com a democracia
247 - “Não esquecer para jamais se repetir.” Com essa frase, o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, resumiu o espírito do ato inter-religioso que marcou os 50 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, realizado na noite de sábado (25) na Catedral da Sé, em São Paulo. O encontro homenageou as vítimas da ditadura militar e reeditou o histórico ato ecumênico de 1975, que reuniu milhares de pessoas contra a repressão e a violência de Estado.
A cerimônia reuniu lideranças religiosas, autoridades, artistas, jornalistas e representantes de entidades de direitos humanos. Organizado pelo Instituto Vladimir Herzog e pela Comissão Arns, o evento reafirmou a importância da memória e da verdade como pilares da democracia.
Memória e resistência
Durante seu discurso, Alckmin relembrou o ato original de 1975, quando cerca de 8 mil pessoas lotaram a Catedral da Sé em silêncio para repudiar o assassinato de Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura.
“Há 50 anos, o silêncio não foi derivado do medo nem da omissão. Representou o mais eloquente protesto, o mais retumbante grito de ‘basta’ à cruel ditadura”, afirmou o presidente em exercício.
Ele também enfatizou que a verdade prevaleceu sobre a versão oficial de suicídio divulgada pelos militares. “Nem a mais covarde das mentiras, forjada pela mais vil das tiranias, foi capaz de apagar a verdade truculenta que se abateu sobre o país. Assim como, na defesa da verdade, não houve lugar para a farsa do suicídio, da mesma forma, por amor à liberdade, jamais haverá lugar para o nosso esquecimento”, completou.
O compromisso do Estado com a democracia
O filho do jornalista, Ivo Herzog, destacou a relevância simbólica da presença de Alckmin no evento. “Há 50 anos, quando mais de 8 mil pessoas vieram a essa catedral demonstrar indignação contra a barbárie cometida contra o meu pai, havia medo do Estado. Hoje, na pessoa do presidente em exercício, temos o Estado de mãos dadas conosco, reafirmando o compromisso com a democracia, com a justiça, com os direitos humanos e com a verdade”, disse.
Pedido de perdão histórico da Justiça Militar
Um dos momentos mais marcantes da cerimônia foi o pronunciamento da presidente do Superior Tribunal Militar, ministra Maria Elizabeth Rocha, a primeira mulher a ocupar o cargo. Em tom solene, ela fez um pedido público de perdão pelas omissões e erros cometidos pela Justiça Militar durante o regime.
“Peço perdão a todos os que tombaram e sofreram lutando pela liberdade. Perdão pelos erros e omissões judiciais cometidos durante a ditadura. Peço perdão a Vladimir Herzog e sua família, e a tantos outros homens e mulheres que sofreram com as torturas, as mortes, os desaparecimentos forçados e o exílio”, declarou.
Segundo a ministra, o gesto representa “um pedido de perdão à sociedade brasileira e à história do país pelos equívocos cometidos pela Justiça Militar em detrimento da democracia”.
Fraternidade e comunhão pela liberdade
A cerimônia contou com apresentações do Coro Luther King e manifestações de líderes religiosos, entre eles dom Odilo Pedro Scherer, a reverenda Anita Wright — filha do reverendo Jaime Wright, um dos organizadores do ato de 1975 — e o rabino Rav Uri Lam.
Encerrando a celebração, Alckmin reforçou que a memória de Vladimir Herzog simboliza a defesa dos valores sagrados da liberdade e dos direitos humanos. “Reafirmo aqui, em nome do presidente Lula e em meu próprio, o nosso inabalável compromisso com a verdade, a justiça e a democracia”, disse.
Apelo à união nacional
Por fim, concluiu com um apelo à união nacional. “A comunhão da fraternidade que hoje celebramos é a mesma que precisamos realizar em nosso país. Devemos aprender com as lições da história e seguir juntos no ideal de construir um futuro comum”.


