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      Morador em situação de rua estava rendido e chorava antes de ser executado pela PM de Tarcísio

      Câmeras corporais mostram que Jeferson de Souza foi morto após quase uma hora rendido

      PM de São Paulo (Foto: Alex Fernandes/Governo de São Paulo via ABr)
      Laís Gouveia avatar
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      247 - Gravações feitas por câmeras corporais de policiais militares detalham o momento em que Jeferson de Souza, de 24 anos, morador de rua, foi executado após uma abordagem sob o Viaduto 25 de Março, na região central de São Paulo. As imagens desmentem a versão apresentada pelos policiais e foram essenciais para que o Ministério Público de São Paulo denunciasse os dois agentes por homicídio qualificado. A reportagem é do jornal O Globo.

      O crime ocorreu em 13 de junho. Segundo as imagens captadas automaticamente pelas câmeras corporais dos policiais — sem áudio até o momento dos disparos — Jeferson foi localizado às 20h27 e permaneceu sob a mira de um fuzil por quase uma hora. O tenente Alan dos Santos Moreira e o soldado Danilo Gehrinh o levaram para trás de uma pilastra, longe da vista dos veículos que passavam pela avenida. Nesse período, tiraram fotos da vítima, que estava desarmada e chorava minutos antes de ser morto.

      Às 21h25, as imagens mostram um dos policiais cobrindo a câmera enquanto o outro realiza os disparos. O áudio só é ativado após os tiros, quando outras viaturas e uma ambulância chegam ao local. Na sequência, um dos PMs tenta justificar o assassinato com uma narrativa desconexa: “A gente estava trocando ideia, ideia, ideia... Quando ele viu que ia perder, tentou a sorte. O cara é louco”. E completa: “Pior que eu estava querendo liberar o cara”.

      No boletim de ocorrência, os policiais alegaram que Jeferson estava “alterado” e teria tentado pegar a arma de um dos agentes. Mas as imagens contradizem totalmente essa versão: mostram que ele já estava rendido, sem oferecer risco.

      Após o crime, um dos policiais ainda alertou que as imagens estavam sendo automaticamente enviadas para a central de monitoramento da corporação. Outro agente então sugeriu: “precisa dar uma olhada” nas gravações.

      O Ministério Público classificou o assassinato como execução sumária. “É certo que os denunciados Alan e Danilo, policiais militares no exercício de suas funções, agiram impelidos por motivo torpe, deliberando matar o suspeito por mero sadismo e de modo a revelar absoluto desprezo pelo ser humano e pela condição da vítima, pessoa em situação de vulnerabilidade social”, afirmou o promotor. Segundo ele, Jeferson “já estava rendido e subjugado pela guarnição no momento em que foi repentinamente alvejado”.

      Os dois policiais foram presos no fim de julho e estão detidos no Presídio Militar Romão Gomes, reservado a agentes de segurança. A defesa do tenente Alan afirma que “a ação policial decorreu de legítima defesa e que isso será demonstrado ao tribunal do júri”. Já os advogados do soldado Danilo disseram, em nota, que “por ora, não se manifestarão sobre a investigação, uma vez que não tiveram acesso aos autos em sua totalidade”.

      Uma vida interrompida pela violência policial


      Jeferson de Souza era natural de Craíbas, no interior de Alagoas. Mudou-se para São Paulo em 2019, após a morte da mãe, em busca de trabalho e de um futuro melhor. Chegou a trabalhar em pizzarias, mas, sem apoio familiar, acabou em situação de rua. Segundo a irmã, Micaele Soares, ele carregava sonhos como qualquer jovem: “A minha mãe faleceu. A gente não tem mãe nem pai. Ele foi embora em busca de trabalho. Ele tinha um sonho muito grande de ser jogador de futebol. Foi em busca de melhora (de vida)”, contou ao SP1, da TV Globo.

      Dois meses após a execução, o corpo de Jeferson ainda está no Instituto Médico Legal (IML), e a família tenta arrecadar recursos para levá-lo de volta a Alagoas. O traslado está orçado em cerca de R$ 15 mil, e os parentes esperam contar com a ajuda da Defensoria Pública de São Paulo para conseguir realizar o sepultamento em sua terra natal.

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