Harvard, USP, PUC e ESPM desmentem vínculo de homem indiciado por matar gari; MP pede bloqueio de bens
Nesta semana, os advogados que representavam Renê renunciaram ao caso
247 - O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, preso pelo assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44, em Belo Horizonte, sustentava um currículo de peso, com supostas formações em algumas das universidades mais prestigiadas do Brasil e do mundo. No entanto, boa parte dessas instituições afirmou que não há registro do executivo em seus quadros. As informações foram divulgadas inicialmente pelo UOL e pelo g1.
No LinkedIn, Renê afirmava ter cursado especializações na Universidade Harvard, na USP, na PUC-Rio, na ESPM, na FGV, no Ibmec e na Universidade Estácio de Sá. O perfil foi excluído logo após a prisão. Harvard informou que não possui “registro de nenhum indivíduo com esse nome e data de nascimento que tenha se formado na instituição”. Já a USP esclareceu que Renê não concluiu mestrado em Agronomia pela Esalq, como dizia, mas apenas participou de um curso de especialização em Bens de Varejo e Consumo em 2020.
A PUC-Rio foi categórica: o empresário “nunca fez nenhum curso, graduação ou pós-graduação” na universidade. A ESPM também desmentiu o currículo, afirmando que Renê “não possui histórico acadêmico na instituição”. FGV, Ibmec e Estácio alegaram que não divulgam dados de alunos ou ex-alunos.
Presença digital e carreira profissional
No LinkedIn, Renê se apresentava como diretor de negócios da Fictor Alimentos Ltda., empresa que confirmou sua contratação, mas disse tê-lo desligado após o crime. Ele também citava passagens por grandes marcas como Red Bull, BRF, Ypê, Kraft Heinz, J. Macêdo e Ambev, além de se autointitular “CEO” com “27 anos de experiência” em liderança e gestão.
Já no Instagram, onde tinha mais de 28 mil seguidores, Renê mostrava uma faceta mais pessoal. Na biografia, se definia como “cristão, esposo, pai e patriota”. A conta também foi apagada.
O crime
Renê é acusado de matar Laudemir após uma discussão de trânsito em Belo Horizonte. De acordo com a Polícia Militar, o empresário se irritou porque o caminhão de coleta ocupava parte da via e ameaçou “atirar na cara” da motorista. Diante da reação de Laudemir e outros garis, ele sacou a arma e disparou contra o trabalhador, que chegou a ser socorrido, mas não resistiu.
A pistola calibre .380 utilizada no crime pertence à esposa de Renê, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira. A Polícia Civil de Minas Gerais apura se a arma estava guardada de forma inadequada, mas até o momento não há indícios de participação direta da delegada.
Investigações e consequências jurídicas
Horas após o assassinato, Renê foi localizado em uma academia no bairro Estoril, área nobre da capital mineira, e preso em flagrante. Ele será indiciado por homicídio qualificado — com duas agravantes: motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima — além de porte ilegal de arma e ameaça.
Segundo o delegado Evandro Radaelli, responsável pela investigação, o empresário tentou manter a rotina para evitar levantar suspeitas. “Temos indícios contundentes e irrefutáveis”, afirmou o delegado, ao explicar que câmeras de segurança registraram Renê em atividades normais após o crime.
A Justiça de Minas Gerais já havia destacado, durante audiência de custódia, que o acusado apresentava “personalidade violenta”, mencionando inclusive histórico de violência doméstica contra a ex-esposa.
O Ministério Público de Minas Gerais pediu o bloqueio de R$ 3 milhões em bens de Renê e da esposa, com o objetivo de garantir futura indenização à família de Laudemir. O bloqueio deve abranger imóveis, veículos, ativos financeiros e participações em empresas.
Abandono da defesa
Nesta semana, os advogados que representavam Renê renunciaram ao caso. Em comunicado à Justiça, informaram que a decisão ocorreu por “motivo de foro íntimo”. A defesa do empresário ainda não se manifestou sobre os desdobramentos da investigação.
A vítima
Laudemir de Souza Fernandes, conhecido como “Lau”, trabalhava há sete anos como gari em Belo Horizonte e era muito querido pela família e colegas. Ele morreu no exercício da função, defendendo uma colega de trabalho de ameaças do empresário.