Filhos de diplomatas abordados por PMs em Ipanema prestarão depoimento em audiência no Rio

247 - Os filhos de dois diplomatas estrangeiros que foram abordados por policiais militares em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, serão ouvidos em audiência conduzida pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). O caso, que ganhou repercussão por suspeita de abordagem discriminatória, foi revelado pela coluna de Ancelmo Gois, do jornal O Globo.

O episódio ocorreu no fim de junho, quando os adolescentes, de 14 e 15 anos, foram parados por agentes do 23º BPM (Leblon) enquanto caminhavam por uma rua do bairro. Os jovens, filhos de representantes diplomáticos da Nigéria e de Angola, relataram que foram obrigados a encostar no muro de uma escola, tiveram as mochilas revistadas e passaram por revista pessoal.A Defensoria Pública e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) acompanham o caso. A audiência com os adolescentes está prevista para os próximos dias e será realizada na sede do MPRJ, no centro do Rio.

A abordagem policial foi filmada por câmeras de segurança e gerou indignação por ocorrer sem justificativa aparente. Segundo o relato das famílias, os jovens foram abordados apenas por serem negros e estarem andando na rua à noite. A representação diplomática dos países envolvidos solicitou esclarecimentos formais às autoridades fluminenses.O caso reacende o debate sobre o racismo institucional e os abusos em ações de rotina da Polícia Militar. Segundo entidades de direitos humanos, abordagens baseadas em perfil racial são recorrentes nas regiões mais ricas do Rio, especialmente contra jovens negros.

O Ministério Público deve apurar se houve abuso de autoridade e prática discriminatória por parte dos policiais envolvidos. A Corregedoria da PM também abriu uma investigação interna para avaliar a conduta dos agentes.A expectativa é de que, após os depoimentos dos adolescentes, o MPRJ possa tomar medidas mais concretas, incluindo o possível oferecimento de denúncia ou recomendações administrativas. O desfecho do caso pode ter implicações diplomáticas, uma vez que envolve filhos de representantes estrangeiros e levanta questionamentos sobre o respeito aos direitos de cidadãos com imunidade diplomática.