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Comando Vermelho tinha equipe de metalurgia para fabricar fuzis em SP

Estrutura operava sob fachada de empresa aeronáutica e produzia peças de fuzis com maquinário de alta precisão

Fuzis (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

247 - Uma operação da Polícia Federal desarticulou, em 21 de agosto, uma sofisticada estrutura clandestina instalada em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, responsável por fabricar peças de fuzis automáticos sob disfarce de uma empresa de metalurgia e peças aeronáuticas. O esquema criminoso contava com maquinário industrial de ponta e envolvia quatro suspeitos de ligação direta com facções criminosas do Rio de Janeiro e de outros estados.

De acordo com o Metrópoles, a quadrilha operava dentro da empresa Kondor Fly Parts Indústria e Comércio de Peças Aeronáuticas, localizada no Distrito Industrial da cidade. O estabelecimento, de propriedade de Gabriel Carvalho Belchior, era utilizado para produção ilegal de armas de alto calibre. Belchior está foragido e é procurado pela Interpol, com suspeita de que tenha fugido para o estado da Flórida, nos Estados Unidos.

Operação e apreensões

A investigação teve início após agentes federais observarem movimentações suspeitas de funcionários em horários noturnos e transporte de caixas pesadas para um imóvel na cidade vizinha de Americana. O local servia como ponto de montagem e armazenamento do arsenal. Durante a operação, a PF apreendeu 35 conjuntos de peças para fuzis do tipo AR-15, dois silenciadores e dezenas de caixas contendo componentes metálicos.

A estrutura contava com máquinas de Controle Numérico Computadorizado (CNC) e centros de usinagem de alta precisão, comumente usados na indústria aeroespacial. O equipamento era empregado para fabricar componentes essenciais de armamentos automáticos.

Esquema e divisão de tarefas

Segundo o inquérito, Anderson Custódio Gomes e Janderson Aparecido Ribeiro de Azevedo foram presos em flagrante no local. Anderson atuava como programador CNC, desenvolvendo os códigos de fabricação, enquanto Janderson era operador de máquinas, responsável por produzir e transportar as peças.

Wendel dos Santos Bastos cuidava da logística e da compra de insumos metálicos. Ele recebia R$ 69 mil mensais pelo arrendamento da estrutura industrial e pela coordenação de entregas e fornecedores. Até a última atualização processual, ele permanecia em liberdade.

O delegado Jeferson Dessotti Cavalcante Di Schiavi, da PF de Campinas, conduziu a operação com apoio do 10º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), responsável pelas prisões em flagrante.

Ligações com facções criminosas

As investigações revelaram que a quadrilha vendia armas e peças para intermediários no Rio de Janeiro, Bahia e Ceará. Cada fuzil era comercializado por valores entre R$ 8 mil e R$ 15 mil, movimentando somas expressivas de dinheiro que eram lavadas em contas de terceiros.

De acordo com a PF fluminense, parte do armamento era destinada ao Comando Vermelho, enquanto documentos da polícia paulista apontam referências ao Primeiro Comando da Capital (PCC) em arquivos de projeto apreendidos.

A Polícia Federal do Rio de Janeiro também apura a atuação de um núcleo carioca responsável por receber o armamento produzido em São Paulo e distribuí-lo para facções e milícias que disputam território em diversas comunidades.

A operação expôs o alto nível de sofisticação técnica e organizacional de grupos criminosos que se valem da infraestrutura industrial para expandir o tráfico de armas no país, utilizando conhecimento técnico e equipamentos de ponta para fins ilícitos.

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