Áudio revela filiada ao PL pedindo "cashback" de emenda parlamentar
Amanda Servidoni pediu R$ 100 mil de volta de emenda de R$ 300 mil destinada a um município do interior de São Paulo
247 - Áudios de WhatsApp mostram uma filiada ao Partido Liberal (PL) em Rio Claro, interior de São Paulo, pedindo a devolução de parte de uma emenda parlamentar. Amanda Servidoni, que se apresenta como “assessora” da deputada estadual licenciada Valéria Bolsonaro (PL), atual secretária de Políticas para a Mulher no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi flagrada em negociações de um suposto “cashback” de valores públicos.
Segundo o Metrópoles, Amanda, presidente do projeto social “Mulheres pela Fé”, solicitou o retorno de R$ 100 mil de uma emenda de R$ 300 mil destinada a um município da região. Em conversas com interlocutores, ela afirma que o repasse seria intermediado por ela junto a deputados estaduais e federais, e que “não aceitaria apenas 10%” da quantia.
“Ele [prefeito] vai gastar 100k com a pista, entendeu? E nós estamos dando 300. Desses 300 eu quero pelo menos uns 100, entendeu? Não quero 10%, filho. Vocês não sabem fazer negócio”, afirma Amanda em um dos áudios obtidos pela reportagem.
Conversas indicam possíveis negociações em outras cidades
Outros trechos dos áudios sugerem que o esquema poderia se repetir em diferentes municípios do interior paulista. “É isso. É 100 e 100, entendeu? 100 e 100. Pronto. Para abrir mais [portas] nas outras cidades”, diz Amanda em outro momento do áudio, de acordo com a reportagem..
Uma das mensagens enviadas por um interlocutor não identificado reforça que as conversas tratavam de emendas parlamentares, mencionando o envio de um ofício e a articulação com uma prefeita e uma deputada, cujos nomes não foram revelados. Questionada pela reportagem, Amanda confirmou a autoria dos áudios, mas negou irregularidades. “Trabalho com projetos. Não tenho nada a declarar”, afirmou.
Relação com Valéria Bolsonaro e o PL
Amanda Servidoni é ex-servidora da Prefeitura de Rio Claro, onde chefiou o gabinete do vice-prefeito e atuou na Secretaria de Saúde. Em junho deste ano, ela se filiou ao PL ao lado do presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, e de Valéria Bolsonaro.
O projeto “Mulheres pela Fé”, liderado por Amanda, tem Valéria como madrinha. Em 23 de outubro, a secretária inaugurou um escritório político em Rio Claro, instalado no mesmo endereço da sede do projeto. Na ocasião, Valéria agradeceu nominalmente a Amanda pela colaboração na criação do espaço.
Embora licenciada da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Valéria enviou duas emendas de R$300 mil para o município — uma em 2023 e outra em 2024. Segundo a prefeitura, os recursos foram aplicados na compra de um veículo para a Secretaria de Saúde e na reforma do prédio da Secretaria de Mobilidade Urbana, por meio de uma emenda Pix, repasse direto ao caixa municipal.
Secretaria e assessoria negam envolvimento
O assessor jurídico da Secretaria de Políticas para a Mulher, Eduardo Aparecido dos Santos, afirmou ao Metrópoles que Amanda atua apenas como “assessora regional” e que as conversas não têm qualquer vínculo com Valéria Bolsonaro.
“Não tem nenhuma relação com a Valéria Bolsonaro. A relação é de amizade e apoio político, especialmente a projetos sociais. Isso é público, está nas redes. A Valéria sempre apoiou esse tipo de projeto porque traz ganhos à população, mas Amanda não é servidora”, declarou Santos.
Em nota oficial, a Secretaria de Políticas para a Mulher informou que a reportagem “não aborda nenhum tema sob competência da pasta” e reforçou que não possui relação com o projeto social “Mulheres pela Fé”. O órgão também destacou que a destinação e o uso de emendas seguem os trâmites legais, com fiscalização de órgãos de controle e do Tribunal de Contas. Até o momento, Valéria Bolsonaro não se manifestou sobre o caso nem sobre sua relação com Amanda Servidoni.


