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Margareth, Jerônimo Rodrigues e Macron discutem conexões entre Brasil, França e África

Festival Nosso Futuro Brasil–França: Diálogos com a África reforça a cooperação bilateral em torno da cultura, da diversidade e da sustentabilidade

Emmanuel Macron, Jerônimo Rodrigues e Margareth Menezes (Foto: WUIGA RUBINI/GOVBA)

247 - A ministra da Cultura, Margareth Menezes, recepcionou nesta quarta-feira (5), em Salvador (BA), o presidente da França, Emmanuel Macron, para a abertura do Festival Nosso Futuro Brasil–França: Diálogos com a África, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro contou também com a presença do governador Jerônimo Rodrigues, do prefeito da capital baiana, Bruno Reis, entre outras autoridades.

O festival integra a Temporada França–Brasil, que tem uma extensa programação cultural em celebração aos 200 anos das relações bilaterais entre os países e reforça a cooperação bilateral em torno da cultura, da diversidade e da sustentabilidade.

A etapa baiana das comemorações se estende até o dia 8 de novembro, com debates e atividades que abordam temas como justiça social, igualdade de gênero, cidades sustentáveis e o papel das culturas afrodescendentes, com foco nas conexões entre Brasil, França e África — um diálogo que ganha novo fôlego às vésperas da COP30.

Durante seu discurso, a ministra destacou o simbolismo da capital baiana como palco da abertura. “Também comemoramos a temporada cultural França–Brasil, marcada por duzentos anos de amizade que nos une. Que esse festival seja o começo dessa ponte — uma ligação entre França, Brasil e os países africanos. Que a gente encontre esse lugar de comunicação, de troca, de respeito e de futuro, com mais dignidade para todos nós”, declarou.

Pela primeira vez na Bahia, o presidente francês discursou sobre a importância do encontro para a construção de uma nova etapa nas relações entre os três continentes. “A nova casa do mundo africano está sendo criada peça por peça, degrau por degrau, para aumentar essa relação e mudar as coisas nesse triângulo para melhor”, observou.

Emocionado com a recepção do público baiano, Macron fez agradecimentos aos presentes na abertura: "é um privilégio sentir esse calor, esse acolhimento que tivemos toda essa tarde. Eu não tenho palavras para exprimir o meu sentimento de tão bem que eu fui recebido aqui hoje”. 

O líder francês ainda salientou a iniciativa conjunta com o presidente Lula para consolidar uma “reinvenção das relações entre os países com a temporada cruzada". “Agradeço o acolhimento caloroso dos baianos. A parceria construída com o presidente Lula se reflete também nas discussões que este fórum vai promover. Desejo que os jovens aqui presentes continuem com as discussões sobre o futuro do mundo, com criação e inovação”.

O governador Jerônimo Rodrigues enfatizou o simbolismo da visita de Macron à Bahia como "um dia muito importante para a história da Bahia". Ele completou ressaltando o caráter histórico do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), local onde ocorreu a cerimônia. “Foi por aqui que os escravos chegaram. Foi por aqui que nós construímos a nossa relação com a África. E hoje a gente volta aqui para promover o encontro da juventude”.

“A vinda do presidente Macron à Bahia e a escolha do estado para a realização de um festival grandioso como este, reforça o papel da nossa terra como ponte viva entre a África, o Brasil e a Europa. Cenário ideal para essa que é, uma celebração da juventude, da cultura e da vocação baiana para o diálogo entre povos e identidades”, destacou o governador Jerônimo Rodrigues.

Do Olodum à Casa do Benin: roteiro de cultura, história e afeto

Antes da cerimônia oficial, Margareth Menezes e Jerônimo Rodrigues, ao lado do presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), João Jorge, e da presidenta da Fundação Nacional das Artes (Funarte), Maria Marighella, acompanharam Macron em um passeio pelo Centro Histórico de Salvador. 

O grupo visitou a Galeria Fundação Pierre Verger e a Casa do Benin, com uma parada diante da estátua de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra. O percurso, feito a pé, foi marcado por forte presença popular, ao som dos tambores do Olodum e do Afoxé Filhos de Gandhy. Logo após, a comitiva se direcionou ao Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) para prestigiar a exposição de Roméo Mivekannin.

“Aqui, em cada esquina, pulsa a história, pulsa a memória. É o eco das vozes dos nossos antepassados que chegam às margens desse continente, trazendo vidas de resiliência e transformação”, afirmou a ministra Margareth Menezes.

Em nota, o governo francês destacou que “a etapa em Salvador é dedicada a confirmar a solidez da parceria com o Brasil e o dinamismo dos intercâmbios culturais, além de celebrar e trabalhar com Brasília em uma relação transatlântica reimaginada, associada aos parceiros africanos”.

A titular do MinC enfatizou ainda a parceria entre os governos: “essa aproximação entre as nações é cada vez mais forte. O presidente Macron e o presidente Lula têm uma amizade verdadeira, e o povo francês sempre recebe muito bem a cultura brasileira. É uma boa amizade, que deve prosperar bastante”.

A abertura do festival também promoveu um amplo debate sobre questões ecológicas, solidariedade entre os povos, com o mundo e justiça social, a partir de discussões levantadas por jovens que participarão do Fórum Nosso Futuro.

Festival que une culturas, ideias e gerações

O Festival Nosso Futuro, organizado pelo Institut Français e pela Embaixada da França no Brasil, em parceria com o Ministério da Cultura e o governo da Bahia, chega à sua 7ª edição, sendo esta a primeira realizada fora do continente africano. Durante cinco dias, desta quarta-feira (5) a domingo (9), Salvador se transforma em um grande palco para debates, exposições, cinema, gastronomia e apresentações culturais gratuitas, com a presença de artistas, pesquisadores e lideranças do Brasil, França e África.

Para o secretário de Cultura, Bruno Monteiro, o evento consolida a Bahia como referência internacional em cultura e diversidade. “Trazer esse festival para a Bahia é uma oportunidade de fortalecer nossa cultura e promover um intercâmbio real entre diferentes formas de pensar e criar, através da reunião de jovens da França, Bahia e África para discutir também artes, educação, ciência e sustentabilidade. A presença de Emmanuel Macron marca o fortalecimento dessa parceria, com a imersão na cultura baiana e o calor do povo local”, destacou.

O coordenador-geral de Políticas de Juventude (Cojuve), Nivaldo Millet, destacou o protagonismo de 100 jovens baianos de programas mantidos pelo Governo do Estado, como o Partiu Estágio, Primeiro Emprego, na construção desse diálogo global. “É a primeira vez em 200 anos de parceria entre o Brasil e a França, que colocamos a juventude no centro dessa discussão. Jovens alcançados pelas nossas políticas públicas na ponta, que participam, aprendem e inspiram, mostrando que o futuro se constrói com escuta, criatividade e união”, ressaltou Millet.

Entre os jovens participantes, o sentimento é de orgulho. “É incrível que eu, uma jovem negra de periferia, oriunda do Programa Primeiro Emprego do Governo do Estado, faça parte da delegação que vai compor uma rica troca de experiências com jovens de outros países e mostrar o potencial do nosso estado”, contou Átina Batista, 24 anos, atual presidenta da União dos Estudantes da Bahia.

Bahia: centro da cultura mundialO festival mobiliza os principais equipamentos culturais do Estado com dez grandes exposições em cartaz, dentre elas:O Avesso do Tempo, de Roméo Mivekannin – MAM-BAFatumbi – o mensageiro, com fotos de Pierre Verger e obras de Emo de Medeiros – MABColeção_FRAC no MAC_Bahia e Ecos através do Atlântico, de Olufemi Hinson Yovo – MAC_BahiaMostras no Museu Afro-Brasileiro, Casa do Benin, Casa das Histórias, MUNCAB e Aliança Francesa

Outro destaque é o Festival Cinemas do Futuro, que exibe 24 filmes africanos e afro diaspóricos entre quinta-feira (6) e domingo (9), nas salas Walter da Silveira e Saladearte da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A programação inclui duas mesas redondas com especialistas e sessões gratuitas dedicadas à memória, identidade e futuro do cinema africano e das diásporas.

Fórum Nosso Futuro

Além das exposições e filmes, no centro do festival, o Fórum Nosso Futuro Brasil-França: Diálogos com África – Nossos Lugares em Partilha oferece um espaço de reflexão e ação, onde 300 jovens e nomes de destaque do pensamento contemporâneo, como Achille Mbembé, Denise Ferreira da Silva, Erika Hilton, Najat Vallaud-Belkacem, Christiane Taubira e Abderrahmane Sissako às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), se reúnem para tratar de temas como justiça ambiental, igualdade de gênero, inclusão social, cultura e sustentabilidade, com foco na construção de novas narrativas globais.

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