Brasil aposta em alianças com Europa e Sul Global para contornar ausência dos EUA na COP30
Lula intensifica articulação com França, México e países africanos para fortalecer o protagonismo brasileiro e garantir avanços no financiamento climático
247 - A decisão de Donald Trump de não enviar representantes à Cúpula de Líderes da COP30, que acontece em Belém, entre 6 e 7 de novembro, abriu espaço para uma reconfiguração do tabuleiro climático internacional. Segundo reportagem do jornal O Globo, a Casa Branca sob comando republicano optou por manter distância das negociações multilaterais, reforçando o isolamento americano na pauta ambiental. Em meio a essa ausência, o Brasil vê a chance de consolidar um papel de liderança global em defesa da Amazônia e da transição ecológica.
Fontes diplomáticas apontam que o Palácio do Planalto trabalha para transformar a lacuna deixada pelos Estados Unidos em uma oportunidade de influência. A estratégia passa por fortalecer alianças com a União Europeia e com países do Sul Global, sobretudo na América Latina, África e Sudeste Asiático — regiões que vêm apoiando o novo Mecanismo de Financiamento Transitório para Florestas (TFFF), aprovado recentemente pelo Banco Mundial.
Reposicionamento internacional
A votação que consolidou o Banco Mundial como administrador fiduciário do TFFF teve apoio de 24 dos 25 países-membros, com o voto contrário apenas do representante americano — que sequer participou da sessão. O resultado foi lido como sinal de isolamento de Washington e de fortalecimento do Brasil como articulador em temas ambientais.
“Essa decisão mostra que há uma coalizão internacional disposta a avançar sem os Estados Unidos”, afirma Claudio Angelo, coordenador de política internacional do Observatório do Clima. Para ele, “a ausência americana enfraquece o multilateralismo, mas abre espaço para novos arranjos de poder e liderança climática”.
O Itamaraty aposta que, sem a influência dos EUA nas negociações, o Brasil poderá ter mais liberdade para conduzir os debates da COP30 e propor compromissos voltados à preservação da floresta e à justiça climática.
Sociedade civil americana se mobiliza
Mesmo sem delegação oficial, a sociedade civil dos Estados Unidos deve marcar presença. Astrid Caldas, cientista sênior de clima da ONG União dos Cientistas Conscientes, sediada no MIT, destaca que “a ausência do governo não reflete a de uma parte considerável da sociedade americana”. Segundo ela, “congressistas, empresários e organizações não governamentais estarão em Belém mostrando que a luta climática vai além da Casa Branca”.
Essa atuação paralela tem sido vista como uma tentativa de manter viva a diplomacia ambiental americana, mesmo sob um governo negacionista.
Belém como vitrine diplomática
A COP30, que reunirá 145 delegações — 57 delas chefiadas por líderes de Estado —, tornou-se uma vitrine internacional para o Brasil. A confirmação da presença do presidente francês Emmanuel Macron e da ministra mexicana Alicia Barcenas, representando a presidente Claudia Sheinbaum, reforça o tom de prestígio ao evento.
Em contrapartida, a ausência dos Estados Unidos e de aliados ideológicos de Trump, como o presidente argentino Javier Milei, coloca em evidência um novo eixo diplomático que tende a se consolidar em torno da agenda climática.
Para diplomatas ouvidos por O Globo, o desafio brasileiro será equilibrar ambição ambiental e pragmatismo econômico, mostrando que o país pode liderar sem antagonizar grandes potências.
“Se o Brasil conseguir sair de Belém com compromissos concretos e um fundo florestal operante, mostrará ao mundo que é possível avançar mesmo quando os Estados Unidos decidem não participar”, resume um negociador brasileiro envolvido na organização da conferência.
