Ciro Nogueira diz que denúncia anônima propagada por jornalista da EBC e pelo PT antecipou a saída da base governista
Denúncia desmentida pela Polícia do Senado e pela PF sobre envolvimento do senador com o crime organizado acelerou rompimento do PP-União com o governo
247 - O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, tomou a decisão de antecipar o rompimento de seu partido com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após afirmar, em conversas privadas, que auxiliares do governo estariam por trás da divulgação de suspeitas envolvendo uma acusação de propina, informa a Folha de S. Paulo. A denúncia, desmentida pela Polícia do Senado e pela Polícia Federal, foi inicialmente divulgada pelo site ICL Notícias. Nogueira negou qualquer vínculo com facções criminosas e declarou que colocaria à disposição da Polícia Federal o sigilo telefônico e de seu gabinete para desmentir as alegações.
Em uma ação mais ampla, a cúpula da federação União Progressista, formada pelos partidos PP e União Brasil, anunciou, na terça-feira (2), que todos os membros das siglas deixarão os cargos no governo Lula como um primeiro movimento de rompimento político.
A decisão foi tomada após a divulgação da reportagem do ICL Notícias que, com base em uma fonte anônima, afirmou que o senador teria recebido dinheiro em seu gabinete, oriundo de empresários ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A matéria apontou que esses empresários, Mohamad Hussein Mourad, o "Primo", e Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco", são investigados por lavagem de dinheiro. Os dois estão sendo acusados pela Receita Federal de utilizar postos de combustíveis, refinarias e fundos de investimento para lavar dinheiro proveniente do PCC. A fonte anônima ainda afirmou ter ouvido de "Beto Louco" que ele entregou dinheiro a Nogueira, relato este que teria sido compartilhado com a Polícia Federal em depoimento.
Segundo o site Conjur, “diferentemente do que foi publicado pelo portal ICL Notícias, a Polícia Federal não tem informações sobre o suposto envio de dinheiro por integrantes da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) ao senador e presidente nacional do partido Progressistas (PP), Ciro Nogueira”. Ainda de acordo com a publicação, “a Secretaria de Polícia do Senado Federal informou que o presidente do PP não recebeu nenhuma visita de Mohamad Hussein Mourad ou de Roberto Augusto Leme da Silva em seu gabinete no ano de 2024”.
Em resposta, Nogueira acusou integrantes do governo federal de espalharem informações falsas sobre ele. A percepção de envolvimento do governo com a denúncia foi reforçada em razão do vínculo do jornalista Leandro Demori, que assina a matéria pelo ICL, com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em vídeo publicado nas redes sociais, Nogueira exibe o contrato de Demori com a EBC e afirma que o "dinheiro do povo brasileiro" não pode ser utilizado para sustentar o que classifica como "pistolagem da esquerda". O senador anunciou que tomará medidas legais contra Demori e os demais jornalistas envolvidos na divulgação da reportagem.
O senador também se queixou da divulgação da matéria pelo portal do PT. Ele vê nisso mais uma evidência de que aliados de Lula estariam envolvidos na propagação dos boatos.
Em conversas com aliados, Ciro Nogueira também expressou a intenção de propor a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a relação da comunicação do governo Lula com sites noticiosos. O movimento reflete não apenas o distanciamento do PP do governo, mas também a crescente articulação de Nogueira nos bastidores da política nacional. O senador, que foi ministro da Casa Civil durante o governo Bolsonaro, é um dos principais defensores da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à presidência nas eleições de 2026.
Com o rompimento formal, Nogueira e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, têm liderado as articulações para fortalecer a União Progressista, uma federação que agora se posiciona como a maior bancada do Congresso Nacional, com 109 deputados federais e 15 senadores. Além da saída dos ministros da federação do governo Lula, também foi decidido que os partidos apoiarão um projeto de anistia para Jair Bolsonaro (PL). Embora não tenha sido divulgado oficialmente, a decisão prevê que alguns ministros que não são filiados aos partidos da federação, como Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) e Frederico de Siqueira Filho (Comunicações), poderão continuar no governo.