Lula destaca nova era nas relações entre Brasil e Malásia
Presidente anuncia acordos estratégicos e defende multilateralismo, paz e governança global durante visita ao país asiático
247 – Durante a primeira visita oficial de um chefe de Estado brasileiro à Malásia em 30 anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (25) que a relação entre os dois países “muda de patamar a partir de hoje”.
A viagem marca um marco histórico na diplomacia brasileira com o Sudeste Asiático. Após reunião bilateral com o primeiro-ministro Anwar Ibrahim, em Putrajaya, Lula anunciou a assinatura de sete instrumentos de cooperação em áreas estratégicas — como tecnologia, ciência, semicondutores, inovação e agropecuária — e a abertura de seis novos mercados para produtos nacionais.
Cooperação e visão humanista
Em declaração à imprensa, o presidente destacou que a visita vai além de interesses comerciais. “Eu não vim aqui apenas com o interesse de vender ou comprar. Eu vim dizer ao primeiro-ministro Anwar Ibrahim que nós temos possibilidade de mudar o mundo”, afirmou Lula. “De fazer com que as coisas sejam melhores, de fazer com que o humanismo não seja derrotado pelos algoritmos. De dizer ao mundo que o mundo precisa de paz e não de guerra.”
Convergência política e defesa da paz
Lula ressaltou a sintonia entre Brasil e Malásia em temas globais, como o combate à fome, o fortalecimento do multilateralismo e a promoção da paz. O encontro reforçou o diálogo iniciado em cúpulas do G20 e do BRICS, consolidando a aproximação entre as duas nações.
Tanto Lula quanto Anwar Ibrahim condenaram os conflitos em curso, especialmente na Ucrânia e em Gaza. “Quem é que se conforma com a duração da guerra entre a Ucrânia e a Rússia? Quem é que pode se conformar com o genocídio impetrado na Faixa de Gaza durante tanto tempo?”, questionou o presidente brasileiro, que também criticou o uso da fome como arma de guerra.
Críticas à governança global
O presidente também cobrou reformas profundas nas instituições internacionais. “As instituições multilaterais criadas para evitar que essas coisas acontecessem pararam de existir. Hoje, o Conselho de Segurança da ONU e a ONU não funcionam mais”, declarou. Para Lula, é urgente criar mecanismos de governança global capazes de enfrentar os dilemas da atual geopolítica.
Reconhecimento e amizade
O primeiro-ministro Anwar Ibrahim destacou o papel de Lula como liderança global e defensor dos mais pobres. “Nós o conhecemos como líder que representa a classe trabalhadora e permanece consistente em sua luta para defender os mais pobres”, disse. Ele também ressaltou o caráter de amizade entre os dois países: “Este não é um encontro diplomático comum, mas um engajamento entre amigos que compartilham convicções e ideais.”
Acordos e novos mercados
Durante a cerimônia, foram firmados sete acordos de cooperação, incluindo memorandos nas áreas de semicondutores, ciência e inovação tecnológica, pesquisa espacial e agricultura sustentável. Além disso, a Malásia abriu seis novos mercados para produtos brasileiros, como carne de frango, pescados, gergelim, melão, maçã e ovos em pó. Também foi antecipada a auditoria para exportação de carne suína de 16 plantas brasileiras.
Comércio e integração regional
Com um fluxo comercial de US$ 5,8 bilhões em 2024 e superávit de US$ 2,7 bilhões para o Brasil, a Malásia se consolidou como um dos principais parceiros do país na Ásia. Os principais produtos exportados são minério de ferro e petróleo bruto, com volume superior ao destinado a países europeus como França, Itália, Portugal e Reino Unido.
Lula enfatizou a convergência de interesses entre as duas nações: “Há tanta confluência entre os nossos pensamentos que basta agora fazer com que as nossas equipes trabalhem com afinco. O Brasil precisa da Malásia, e a Malásia precisa do Brasil.”
Agenda climática e a “COP da verdade”
Ao tratar da crise climática, o presidente destacou a necessidade de transformar compromissos em ações concretas. “Como é que vamos evitar que o planeta possa ser destruído se sabemos o que está destruindo e não tomamos atitude?”, questionou.
Lula afirmou que a COP30, que será realizada em Belém (PA), será “a COP da verdade”. Segundo ele, será o momento em que os países terão de mostrar se realmente acreditam na ciência e se estão dispostos a agir. “Chega o momento em que a gente tem que pensar no planeta”, concluiu.
A visita de Lula à Malásia, seguida de sua participação inédita na Cúpula da ASEAN, reforça o papel do Brasil como articulador global pela paz, pela sustentabilidade e por uma nova governança internacional baseada na solidariedade e no desenvolvimento conjunto.


