Lula denuncia nova guerra contra a democracia e convoca resistência popular no Chile
Em discurso a movimentos sociais, presidente brasileiro alerta para a ameaça global da extrema direita, critica a desigualdade e defende soberania
247 – Em discurso realizado nesta segunda-feira (21), durante o evento Democracia Sempre em Santiago, no Chile, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um contundente pronunciamento em defesa da democracia e da justiça social. A íntegra da fala foi publicada pelo site oficial do Palácio do Planalto, que transmitiu o evento realizado com organizações e movimentos sociais chilenos.
Lula iniciou sua intervenção destacando o simbolismo de falar sobre democracia na capital chilena, um país que, segundo o próprio presidente, foi “asilo contra a opressão” para milhares de latino-americanos perseguidos por regimes ditatoriais, incluindo brasileiros ilustres como Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Marco Aurélio Garcia e Emir Sader.
A luta contínua pela democracia
O presidente brasileiro alertou para as novas formas de ataque aos regimes democráticos: “Os inimigos da democracia não recorrem mais à diplomacia dos tanques e das canhoneiras. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Promovem uma guerra cultural. Utilizam o comércio como instrumento de coerção e chantagem”. Ele enfatizou que, além do uso de fake news e ataques virtuais, as forças extremistas também atacam instituições, a ciência, as universidades e os laços de solidariedade internacional.
Lula recordou o golpe militar contra o presidente chileno Salvador Allende, há 52 anos, como símbolo de um passado que não deve se repetir. O mandatário afirmou que o extremismo atual busca corroer as instituições por dentro, aprofundando a polarização, promovendo o negacionismo e criando um ambiente favorável ao fascismo.
O alerta sobre a extrema direita internacional
O presidente destacou o crescimento global da insatisfação com a democracia, citando dados alarmantes: “Na Europa, 48% dos jovens acreditam que a democracia está em risco. Apenas 33% dos latino-americanos estão satisfeitos com o atual modelo”. Segundo Lula, o recente ataque às instituições brasileiras, logo após as eleições de 2022, comprova que a luta contra o autoritarismo é permanente.
Lula denunciou a articulação internacional da extrema direita: “A extrema direita organizada internacionalmente oferece um novo Consenso de Washington, ou melhor, um novo Dissenso de Washington: antidemocrático, negacionista e intervencionista”. O chefe de Estado brasileiro condenou o que chamou de “subserviência” da extrema direita latino-americana, que, segundo ele, “abdica da autodeterminação dos povos” e ataca qualquer esforço de integração regional.
Democracia é igualdade material, não apenas voto
Para Lula, a defesa da democracia vai além do direito ao voto. Ele afirmou: “Democracia não é só votar — é ter comida na mesa, ter uma casa, ver seus filhos na universidade, desfrutar de lazer e cultura”. E reforçou sua defesa da construção de sociedades mais justas: “Como afirmou o Papa Francisco, não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza e nem justiça na desigualdade”.
O presidente ressaltou a necessidade de um novo pacto social que recoloca o Estado no centro das políticas públicas, defendendo a recuperação de bandeiras históricas da esquerda, como a justiça social e a soberania dos povos.
Prioridade ao combate à fome e à justiça tributária
Lula reiterou seu compromisso com a luta contra a fome e a desigualdade. Citando o “Estallido Social” chileno como símbolo da indignação popular diante dos privilégios das elites, o presidente lamentou a concentração absurda de riqueza: “1% das pessoas mais ricas do planeta controla 45% da riqueza global”, denunciou.
Ele também apontou o paradoxo global da fome e da pobreza: “733 milhões de pessoas continuam passando fome e vivendo sem eletricidade e água. Mas não falta dinheiro nem alimentos. O que falta é indignação e vontade política”. Segundo Lula, a presidência brasileira do G20 lançou uma Aliança Internacional contra a Fome, que tem como principal missão recolocar o combate à miséria no centro da agenda global.
O presidente também criticou o sistema tributário global e defendeu taxação dos super-ricos: “Sem justiça tributária, as distorções continuarão se ampliando em favor do grande capital e dos bilionários”.
Desenvolvimento sustentável e transição justa
Lula também destacou os compromissos ambientais do Brasil. Ele citou a próxima Conferência do Clima (COP-30), que ocorrerá em Belém do Pará, e afirmou que o país deseja liderar o debate sobre uma transição ecológica justa: “Sem metas ambiciosas não impediremos que o aquecimento global supere um grau e meio”, advertiu.
O presidente enfatizou que o modelo baseado em combustíveis fósseis é insustentável e condenou o legado destrutivo do extrativismo: “Durante séculos, a exploração mineral gerou riqueza para poucos e deixou rastros de destruição e miséria para muitos”. Lula defendeu a proteção dos biomas Amazônia, Atacama e fundos marinhos como parte da luta contra práticas neocolonialistas.
Pela paz mundial e regulação das plataformas digitais
O presidente brasileiro também fez um apelo pela paz, condenando os conflitos em curso, sobretudo a tragédia humanitária em Gaza e a guerra na Ucrânia. “Nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças em Gaza”, declarou. Ele criticou os gastos militares globais que já superam 2,7 trilhões de dólares anuais.
Por fim, Lula chamou atenção para os desafios trazidos pelas novas tecnologias e pela desinformação digital: “O que é crime na vida real deve ser crime no ambiente digital. Liberdade de expressão não se confunde com liberdade de agressão”, declarou. Ele defendeu a regulação das plataformas digitais e o combate ao discurso de ódio.
Encerrando seu discurso, Lula citou a artista chilena Violeta Parra para expressar seu otimismo com as lutas sociais: “Voltar a ter 17 anos, todos os dias, depois de viver um século”. Aos 79 anos, o presidente afirmou: “Peço a Deus que me permita viver até os 120. Quem tem uma causa não envelhece. A história nos ensina que nenhum retrocesso se sustenta diante da mobilização popular”.
O encontro no Chile reforçou a mensagem de resistência democrática e reafirmou o papel da mobilização social como pilar essencial para a construção de um mundo mais justo, pacífico e sustentável. Assista:
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