Edinho Silva diz que governo Lula rompeu barreira com eleitor bolsonarista após tarifaço de Trump
Novo presidente do PT afirma que debate sobre soberania e justiça tributária permitiu diálogo inédito com parte do eleitorado de Bolsonaro
247 – O novo presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Edinho Silva, afirmou que a ofensiva econômica promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o chamado "tarifaço", e a recente mobilização nacional em torno da justiça tributária abriram uma brecha histórica para o governo Lula dialogar com parte do eleitorado que apoiou Jair Bolsonaro. As declarações foram feitas em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta-feira (23).
"É uma reação ao governo Trump, que usa a concepção de coerção econômica mundial. Ele usou isso praticamente com todos os grandes parceiros", avaliou Edinho. Para ele, o novo cenário internacional e o embate sobre os rumos do modelo econômico nacional mobilizaram setores sociais até então refratários ao governo. “Agora está acontecendo pela primeira vez desde a posse. As entregas do governo não mexeram na opinião pública, mas o debate sobre o modelo de sociedade mexe”, acrescentou.
Trump, soberania e o risco de uma guerra econômica
Segundo Edinho, o tarifaço imposto por Donald Trump — que está em seu segundo mandato como presidente dos EUA — não apenas compromete o comércio exterior, como ameaça a soberania de países como o Brasil. “Ele está criando as condições para a Terceira Guerra Mundial, só que ela não será bélica, será econômica. [...] Ou nós vencemos esse embate ou o Brasil vira um quintal dos EUA.”
Ele também rechaçou a ideia de que o governo Lula tenha negligenciado o diálogo com Washington por priorizar os Brics. “É uma leitura muito equivocada achar que o Brasil não tem direito de se organizar do ponto de vista econômico. Diante do tarifaço do Trump que começa a se propagar para o mundo, é evidente que você tem que buscar alternativa.”
Justiça tributária como elemento de disputa política
A pauta da justiça tributária, reacendida após o Congresso derrubar o aumento do IOF, se tornou, segundo Edinho, um divisor de águas no debate público. “Quando discutimos justiça tributária, estamos debatendo o modelo de Brasil que queremos construir: um Brasil de privilégios ou um Brasil de igualdade de oportunidade.”
Essa discussão, diz ele, foi fundamental para atingir uma camada do eleitorado que apoiou Bolsonaro por fatores conjunturais, não ideológicos. “Sempre defendi que fôssemos capazes de dialogar com esse eleitor. Agora está acontecendo.”
Crise institucional e reforma política
O novo presidente do PT também criticou o atual arranjo entre os Poderes. “Durante os governos Temer e Bolsonaro, tivemos uma descaracterização do presidencialismo. O Congresso hoje executa R$ 52 bilhões. O Congresso expropriou do Executivo boa parte das suas atribuições.” Ele defende uma reforma política que inclua o voto em lista para a Câmara e maior fortalecimento dos partidos.
“O tempo todo o Congresso reivindica. Em todas as votações, tem que aumentar o volume de emendas liberadas. Essa contradição precisa ser superada.”
Papel de Haddad e cenário eleitoral
Edinho elogiou a atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a crise do IOF, e apontou sua importância estratégica para o governo Lula. “Haddad é o ministro mais vitorioso do governo Lula. Ele pegou agendas difíceis, obteve vitórias importantes e agora está fazendo o debate que o mundo terá de fazer, que é o da reforma da renda.”
Sobre o futuro político do ministro, afirmou: “O sucessor virá em 2030. Em 2026, o candidato é o Lula. [...] O sucessor não será um nome, será o partido.”
Questionado sobre a possibilidade de convencer Haddad e o vice-presidente Geraldo Alckmin a disputarem o governo de São Paulo, Edinho foi direto: “As eleições de 2026 são tão importantes que todas as nossas grandes lideranças terão de cumprir missões. Absolutamente todas.”
Um PT mais amplo e voltado à defesa nacional
Ao assumir o comando do partido até 2029, Edinho Silva defende uma postura mais abrangente, com capacidade de liderar um projeto de país que vá além das bases tradicionais do partido. “Que Brasil queremos deixar para as futuras gerações? Esse é o debate.”
Para ele, a defesa da soberania nacional e o enfrentamento às pressões externas são pilares centrais para fortalecer esse projeto. "Você vê a sociedade se movendo na defesa do Brasil", concluiu.
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