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Confira os destaques da entrevista do presidente Lula à imprensa na Malásia

Presidente detalhou avanços em acordos com a Malásia, comemorou aniversário, comentou encontro com Donald Trump e previu rápida solução para tarifas

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

247 – O presidente Lula concedeu entrevista coletiva à imprensa em Kuala Lumpur, capital da Malásia, no encerramento de sua visita oficial ao país. A viagem marcou o fortalecimento das relações bilaterais, a assinatura de novos acordos e uma retomada positiva do diálogo comercial com os Estados Unidos, após encontro com o presidente Donald Trump.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, abriu a coletiva destacando que a visita de Lula “alçou o relacionamento do Brasil com a Malásia a um novo e mais alto patamar”. Ele lembrou que havia três décadas que um presidente brasileiro não visitava o país e ressaltou a relevância econômica da parceria. “Mais de 100 empresários brasileiros vieram à Malásia e participaram de reuniões com líderes de 20 das maiores empresas locais”, afirmou.

Entre os resultados concretos, Mauro Vieira anunciou a assinatura de um acordo de cooperação na indústria de semicondutores — setor no qual a Malásia é o sexto maior exportador mundial — e novos instrumentos nas áreas de ciência, tecnologia, pesquisa espacial, tecnologia da informação, formação de diplomatas e agropecuária. O ministro também ressaltou o apoio malaio à presidência brasileira da COP30 e ao pleito do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Reconhecimento acadêmico e integração regional

Durante a visita, o presidente Lula recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia, em reconhecimento à sua contribuição para o desenvolvimento internacional e a cooperação no Sul Global. “Trata-se de um reconhecimento não apenas a mim, mas a todo o povo brasileiro”, declarou o presidente.

Lula também foi o primeiro chefe de Estado brasileiro a participar da Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), onde celebrou a entrada de Timor-Leste como 11º membro do bloco. Segundo o presidente, “o Sudeste Asiático é o epicentro do crescimento global e polo de inovação tecnológica, prioridades da política externa brasileira”.

Encontro com Donald Trump e negociação de tarifas

O ponto mais aguardado da coletiva foi o relato de Lula sobre o encontro com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. “A reunião transcorreu em clima de grande cordialidade”, relatou o chanceler Mauro Vieira. Lula explicou que pediu a suspensão das tarifas impostas ao Brasil e defendeu o diálogo direto: “Agora não tem mais intermediário. É o presidente Lula com o presidente Trump. Gostemos ou não um do outro, temos que agir como chefes de Estado.”

O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Rosa, confirmou o avanço das tratativas: “O presidente Trump orientou a sua equipe a celebrar um acordo em poucas semanas com o Brasil.” Lula afirmou estar “muito otimista” com o resultado e disse acreditar que “em poucos dias haverá uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil”.

Aniversário e balanço da viagem

Em tom descontraído, Lula lembrou que completou 80 anos durante a viagem. “Eu nunca me senti tão vivo e com tanta vontade de viver. Espero chegar aos 120”, brincou. Ele avaliou que a visita foi “mais uma viagem exitosa do governo brasileiro ao exterior” e elogiou o primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim, a quem chamou de “figura extraordinariamente agradável, que gosta do Brasil e quer ter uma relação muito forte com o povo brasileiro”.

Lula também destacou a importância da presença de empresários brasileiros nas missões internacionais: “O presidente da República não faz negócio. Ele apenas abre as portas para que os homens de negócio façam negócio.”

Expansão do comércio e transição energética

O presidente ressaltou que o comércio do Brasil com Indonésia e Malásia, hoje em torno de US$ 12 bilhões, “é muito pouco diante do potencial econômico desses países”. Ele cobrou mais ousadia dos ministros e empresários brasileiros: “Ao invés de ficar no zap todo dia, tem que viajar o mundo para vender o que o Brasil produz.”

Lula destacou ainda o interesse estrangeiro no modelo energético brasileiro: “Há muita disposição em conhecer o que é a transição energética que o Brasil está pensando. Um país que tem quase 90% da sua energia elétrica renovável e que defende o fim dos combustíveis fósseis.”

Relação com a China e defesa da multipolaridade

Questionado por uma jornalista britânica sobre o papel da China no cenário global, Lula afirmou que o Brasil “não tem preferência por países” e defendeu equilíbrio: “Queremos manter belíssima relação com os Estados Unidos e belíssima relação com a China. Não aceitamos uma nova guerra fria.”

Ele acrescentou que o comércio com os chineses já vinha crescendo e continuará assim: “Tudo aquilo que a China precisar comprar, o Brasil tem para vender.” O presidente reiterou que o Brasil busca ampliar parcerias com todos os blocos, mencionando a retomada do acordo Mercosul–União Europeia e novas negociações com Indonésia, Malásia e ASEAN.

Paz e diplomacia ativa

Lula concluiu a entrevista reafirmando a defesa da paz e da diplomacia. “O Brasil é paz e amor. Não queremos guerra, queremos negociação. Não queremos confusão, queremos resultado.” Ele ainda destacou o papel do país na busca por soluções diplomáticas para conflitos como o da Venezuela e da Ucrânia, propondo “diálogo e mediação, não a lógica das armas”.

A coletiva encerrou a agenda de Lula na Malásia, que incluiu a participação na cúpula da Ásia do Leste e um jantar oferecido em sua homenagem pelo primeiro-ministro Anwar Ibrahim. O presidente retorna ao Brasil após três dias de compromissos na Ásia e com a perspectiva de novos acordos comerciais e cooperação tecnológica.

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