Como Trump encurralou Netanyahu para aceitar cessar-fogo em Gaza
Presidente dos EUA, e sua própria base, passaram a pressionar o líder do regime de Tel Aviv há meses, sem romper o apoio histórico entre os países
247 - Milhares de israelenses vaiaram o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu quando Steve Witkoff, enviado especial de Donald Trump para missões internacionais, citou seu nome ao discursar durante uma massiva mobilização na capital israelense, Tel Aviv, no sábado (11). Após dois anos de guerra genocida, promovida por Israel contra o povo da Faixa de Gaza, que deixou mais de 67 mil mortos, o regime de Netanyahu finalmente se prepara para implementar a tão divulgada trégua "paz" pela Casa Branca. Trump agora se apresenta como mensageiro da paz mundial, afirmando ter salvado Gaza, embora Washington tenha atuado consistentemente como fornecedor de armas para o regime de Tel Aviv durante todo genocídio.
A propaganda trumpista, contudo, não anula o fato de que a pressão vinda de Washington, ao longo dos últimos meses, foi decisiva para que Tel Aviv finalmente aceitasse uma pausa nos seus massacres de mulheres e crianças palestinas.
Trump já havia exercido em janeiro influência direta ao pressionar Netanyahu a aceitar o plano de cessar-fogo inicialmente proposto pelo ex-presidente Joe Biden, o que possibilitou a libertação de 30 prisioneiros israelenses vivos e oito corpos. Em junho, durante a Guerra de 12 dias de Israel e EUA contra o Irã, ele ordenou que Tel Aviv suspendesse os ataques aéreos iminente. Conforme recordou o canal CNN, os caças israelenses voltaram em pleno ar, enquanto Israel sofria um verdadeiro dilúvio de mísses hipersônicos da República Islâmica.
Na última semana, Trump voltou a agir para forçar um pedido de desculpas público de Israel ao Catar, após o ataque de 9 de setembro contra líderes do movimento palestino Hamas em Doha, episódio que expôs a fragilidade diplomática do primeiro-ministro israelense, de acordo com a CNN. A influência de Trump, encurralando Netanyahu, ficou ainda mais evidente com o anúncio de seu plano de 20 pontos para encerrar os ataques de Israel, apresentado durante a visita de Netanyahu a Washington.
Base se volta contra Israel e pesquisa Pew
A pressão da administração republicana não se deve apenas a interesses geopolíticos, mas também ao desgaste interno, na opinião pública: sua própria base de extrema direita, e a população de modo geral, começa a questionar o apoio irrestrito a Israel. Mais amplamente, pesquisa do instituto Pew, divulgada no último dia 3, aponta que:
- As opiniões dos americanos sobre o governo israelense e sobre o povo de Israel são menos positivas do que em fevereiro de 2024. Atualmente, 35% têm uma visão favorável do governo israelense, em queda em relação aos 41% registrados em 2024.
- Já em relação ao povo israelense, 56% agora o veem de forma positiva, uma redução em comparação aos 64% de um ano e meio atrás.
- Atualmente, 39% afirmam que Israel está indo longe demais em sua operação militar contra o Hamas. Esse percentual subiu em relação aos 31% de um ano atrás e aos 27% no final de 2023.
- Além disso, 59% agora têm uma opinião desfavorável sobre o governo israelense, em comparação com 51% no início de 2024.
Segundo a pesquisa: "Os republicanos têm muito mais chances do que os democratas de aprovar a forma como Trump está lidando com o conflito e de afirmar que ele está alcançando o equilíbrio certo entre israelenses e palestinos. No entanto, a parcela que considera que Trump favorece excessivamente os israelenses aumentou em ambas as coalizões partidárias".
Negociações
Nesse contexto, a próxima etapa das negociações ocorrerá em Sharm El Sheikh, no Egito, na segunda-feira (13), onde Trump e o presidente egípcio, Abdulfatah al-Sisi, planejam copresidir uma cúpula com diversos líderes mundiais para discutir o fim definitivo da guerra genocida em Gaza. Netanyahu agradeceu publicamente a Trump por seu papel central no chamado plano de paz para Gaza. No entanto, a proposta do presidente norte-americano não contempla o reconhecimento de um Estado palestino e mantém a ocupação israelense de grande parte do território do enclave.
A intransigência de figuras-chave do governo Netanyahu também põe em dúvida qualquer solução duradoura. Ainda assim, líderes do Hamas reconheceram que o acordo é permanente, avaliando que apenas a pressão de Washington sobre Israel tornou viável o avanço nas negociações. Contudo, a resistência palestina continua armada e patrulhando as ruas de Gaza, afirmando que não renunciará às armas, de acordo com especialistas ouvidos pelo canal PressTV.
Na sexta-feira (10), Trump confirmou planos de se reunir com muitos líderes no Egito na segunda-feira para discutir Gaza no Egito e disse que discursará no Knesset, o parlamento israelense, durante sua visita ao Estado judeu.
O acordo
O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas entrou em vigor na sexta-feira, após três dias de intensas negociações em Sharm El Sheikh, Catar, Turquia e Estados Unidos. Pelo entendimento, o Hamas se comprometeu a libertar 20 prisioneiros vivos capturados em 7 de Outubro e 28 mortos mantidos em Gaza desde a Operação Tempestade de Al Aqsa. Em contrapartida, Israel deverá liberar cerca de 2.000 prisioneiros palestinos e autorizar a ampliação da ajuda humanitária ao enclave sitiado, profundamente devastado pelos bombardeios israelenses.


