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Nippon Steel deixa a Usiminas e Ternium reforça o controle no Brasil

Aquisição das fatias da Nippon Steel e da Mitsubishi por US$ 315 milhões consolida a força do grupo argentino na siderurgia brasileira

Funcionário trabalha no alto-forno da Usiminas (Foto: REUTERS/Alexandre Mota)

247 - A japonesa Nippon Steel Corporation anunciou que venderá toda a sua participação na Usiminas à Ternium S.A., encerrando uma parceria que atravessou seis décadas e ajudou a moldar a história da siderurgia no Brasil. A informação foi divulgada pelo Brazil Stock Guide, que destacou que a operação também inclui a fatia da Mitsubishi Corporation, totalizando cerca de US$ 315 milhões.

A Ternium, que já detinha 51,5% do bloco de controle da Usiminas, elevará sua participação para 83,1%. O negócio envolve 153,1 milhões de ações ordinárias, a US$ 2,06 por ação, adquiridas por meio da subsidiária Ternium Investments S.à r.l., sediada em Luxemburgo. Com a conclusão da operação, a soma das participações da Ternium Argentina e da Confab — subsidiária da Tenaris — levará o grupo argentino a deter 92,9% do bloco de controle da companhia mineira. A Previdência Usiminas manterá os 7,1% restantes.

Estratégia global da Nippon Steel

A Nippon Steel possuía cerca de 30% das ações ordinárias da Usiminas, equivalente a aproximadamente 5% do capital total. Em nota aos investidores, a empresa afirmou que a decisão de venda faz parte de uma reorientação estratégica global. “Decidimos transferir todas as ações que detemos na Usiminas à Ternium, com o objetivo de concentrar recursos de gestão em regiões-chave — Estados Unidos, Índia e Tailândia”, declarou a companhia japonesa.

O grupo agora foca na integração da recém-adquirida U.S. Steel e na ampliação da AM/NS India, com a meta de alcançar 100 milhões de toneladas de capacidade anual de aço bruto.

Contexto da crise na siderurgia brasileira

A saída japonesa ocorre em meio a uma das piores crises da siderurgia nacional. As importações, sobretudo da China, já representam quase um terço da demanda interna, pressionando preços e margens. Usiminas e Gerdau vêm pedindo medidas de proteção comercial para conter a concorrência desleal e preservar a indústria local.

O CEO da Usiminas, Marcelo Chara, elogiou a decisão do governo de prorrogar por cinco anos as tarifas antidumping sobre chapas grossas da China e da Coreia do Sul. Já o vice-presidente Miguel Homes Camejo afirmou que as decisões sobre aço laminado a frio e revestido devem sair até o início de 2026. Em sintonia, o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, alertou que o setor chegou “ao limite do que a eficiência sozinha pode fazer”, defendendo uma política de “soberania industrial”.

Força financeira da Ternium e próximos passos

A Ternium ressaltou que possui robustez financeira para concluir a aquisição. Com índice de liquidez corrente de 2,46 e ações em alta de 27,5% nos últimos seis meses, a empresa financiará a compra com recursos próprios. A transação segue os termos do acordo de acionistas de 2023 e ainda depende de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Um legado de aço e cooperação

A saída da Nippon Steel encerra um ciclo iniciado em 1956, com a fundação da Usiminas e, um ano depois, a assinatura do Acordo Lanari–Horikoshi, marco da parceria entre o Brasil e o Japão no setor. O acordo, firmado entre o engenheiro Amaro Lanari Júnior e o emissário japonês Teizo Horikoshi, selou o primeiro grande investimento japonês no exterior após a Segunda Guerra Mundial e impulsionou o projeto de industrialização de Juscelino Kubitschek.

A colaboração resultou na criação de um dos maiores complexos siderúrgicos da América Latina e na formação de engenheiros brasileiros no Japão, os chamados “Sete Samurais”, que trouxeram ao país uma cultura de precisão e disciplina que permanece no DNA da Usiminas.

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