Brasil e o risco dos COEs: o conforto fabricado dos investimentos estruturados
André Vieira, do Brazil Stock Guide, analisa como produtos financeiros que prometem proteção e alto retorno transferem o risco ao investidor brasileiro
247 - Em artigo publicado no Brazil Stock Guide, o editor André Vieira analisa o fenômeno dos Certificados de Operações Estruturadas (COEs) no Brasil, destacando o contraste entre a promessa de segurança e a realidade de exposição ao risco. Segundo ele, a busca por previsibilidade em uma economia de juros elevados tem alimentado um mercado que “embala derivativos arriscados em estruturas vendidas como renda fixa turbinada”.
O apelo do "conforto fabricado"
Vieira explica que, com o CDI em dois dígitos, o investidor brasileiro se acostumou à ideia de retornos previsíveis e garantidos. Essa percepção de estabilidade abriu espaço para produtos financeiros que parecem unir o melhor dos dois mundos: segurança e rentabilidade. O discurso comercial fala em “proteção de capital” e “exposição internacional”, mas omite um detalhe essencial — essa proteção é condicional.
“O investidor só está protegido enquanto o ativo subjacente — seja uma ação, um título corporativo ou um índice — não desaba”, alerta o editor. “Quando isso ocorre, alguns desses produtos disparam barreiras automáticas: são liquidados no fundo do poço e devolvem apenas trocados".
Risco privatizado, lucro socializado
Segundo André Vieira, embora não haja ilegalidade, a estrutura desses produtos cria um problema econômico. “O risco está nas letras miúdas”, escreve. Os bancos que oferecem os COEs protegem-se com derivativos compensatórios, enquanto o investidor final assume toda a exposição. “O risco é privatizado, o lucro é socializado".
Essa dinâmica, segundo o autor, transforma o conceito de investimento protegido em uma armadilha. O sistema transfere o ônus da volatilidade para o cliente, enquanto as instituições financeiras garantem seus ganhos, independentemente do desempenho dos ativos de referência.
A exceção que virou regra
Vieira reconhece que existem versões legítimas dos COEs — aquelas que preservam integralmente o capital investido. No entanto, ele alerta que o mercado passou a vender a exceção como se fosse a regra. “O investidor acredita estar comprando segurança, mas o que recebe é risco travestido de proteção”, escreve.
Essa distorção, argumenta o editor, compromete a confiança no sistema financeiro, especialmente entre investidores de varejo, que enxergam na renda fixa uma espécie de refúgio.
A confiança não tem fundo garantidor
No encerramento do artigo, André Vieira destaca a principal lição dessa engenharia financeira: a confiança, nos mercados, é um ativo intangível e frágil. “As versões capital-protegidas dos COEs têm seu espaço, mas o mercado aprendeu a vender o raro como comum. E confiança, nos mercados financeiros, não tem fundo garantidor".