União Europeia e Canadá assinam acordo militar e desafiam hegemonia dos EUA
Pacto abre caminho para compras conjuntas de armamentos e integração em iniciativas de defesa, enquanto Carney tenta reduzir dependência de Washington
247 - União Europeia e o Canadá assinaram um inédito acordo de cooperação em segurança que aproxima os dois lados em compras militares e sinaliza uma mudança geopolítica relevante: o desejo canadense de reduzir sua histórica dependência dos Estados Unidos no campo da defesa.
O pacto, firmado em Bruxelas com a presença do primeiro-ministro canadense, Mark Carney, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, estabelece bases para que o Canadá possa futuramente aderir ao ambicioso programa europeu de compras conjuntas de equipamentos militares. Trata-se do fundo Security Action for Europe (SAFE), estimado em €150 bilhões, parte do plano estratégico ReArm Europe, avaliado em €800 bilhões. No entanto, a participação canadense nesse fundo ainda dependerá de negociações específicas e acordos caso a caso com os países europeus.
Objetivo estratégico: romper a dependência de Washington
A assinatura do acordo dá forma a uma promessa de campanha de Carney: reduzir a submissão do Canadá aos Estados Unidos na área de defesa. Atualmente, a maior parte do orçamento militar canadense é gasto com fornecedores norte-americanos. O impulso pela autonomia também reflete a deterioração das relações bilaterais — agravadas por medidas unilaterais do presidente dos EUA, Donald Trump, que impôs tarifas comerciais ao vizinho do norte e chegou a sugerir que o país deveria ser o "51º estado" da federação americana.
Segundo o documento, as partes concordaram em “explorar possível envolvimento mútuo” em programas de defesa de cada lado. Além disso, preveem desenvolver ações conjuntas de segurança marítima, inclusive no Indo-Pacífico, realizar exercícios navais em conjunto, além de promover maior interoperabilidade entre equipamentos e forças armadas.
Segurança cibernética e governança de IA
A crescente preocupação com ameaças tecnológicas também foi destacada no acordo, que menciona “ciber” em 13 ocasiões e prevê ações coordenadas contra interferência estrangeira. Há ainda o compromisso de compartilhar informações sobre tecnologias disruptivas emergentes, com destaque para a inteligência artificial aplicada à defesa — tema que tem ganhado peso nas agendas militares das potências ocidentais.
A aproximação entre o Canadá e a União Europeia ocorre em um momento de incerteza quanto ao papel dos EUA na defesa europeia. O presidente Trump tem sinalizado a intenção de reduzir a presença militar americana no continente. Nesse contexto, a UE tem reforçado laços bilaterais: há poucas semanas, também firmou um acordo de segurança com o Reino Unido, encerrando um hiato de cinco anos desde o Brexit.
Compromissos políticos e estratégicos
Além do pacto militar, um comunicado conjunto Canadá-UE reafirmou o apoio “pelo tempo que for necessário” à Ucrânia diante da guerra com a Rússia e defendeu a ampliação da pressão contra Moscou. Os dois lados também pediram “cessar-fogo imediato” em Gaza, com a libertação de todos os reféns, além de expressarem “profunda preocupação com a perigosa escalada” entre Israel e Irã. O texto foi enfático: “o Irã não pode ter armas nucleares”.
O comunicado também incluiu condenação a qualquer ameaça à independência do Tribunal Penal Internacional. O gesto ocorre após o governo Trump impor sanções contra quatro juízes da Corte, acusando-os de “transgressões” contra os EUA e Israel.
Outros pontos destacados na declaração abrangem:
- o fortalecimento da segurança energética;
- a integração de cadeias de fornecimento de minerais estratégicos, como o níquel, com a menção a um novo projeto canadense elogiado pelo bloco europeu;
- a harmonização de padrões regulatórios e expansão do comércio;
- e incentivos ao investimento cruzado em projetos de interesse mútuo.
Contexto da OTAN e gastos militares
O pacto entre União Europeia e Canadá antecede a cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), marcada para ocorrer na cidade holandesa de Haia. Na reunião, os aliados devem endossar o aumento dos investimentos em defesa para 5% do PIB. O acordo assinado nesta semana deixa claro que a OTAN “continua sendo a base” da segurança coletiva tanto para o Canadá quanto para os membros europeus da aliança.
Com esta guinada, Ottawa dá um passo importante na tentativa de reposicionar sua política externa e militar, buscando parcerias mais equilibradas e menos sujeitas ao temperamento de Washington.
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