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Última fabricante europeia de insumos para antibióticos fecha fábrica principal e transfere produção para a China

Decisão da dinamarquesa Xellia compromete plano da União Europeia de reduzir dependência de medicamentos asiáticos

(Foto: Divulgação )
Luis Mauro Filho avatar
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247 - A última empresa da Europa dedicada à produção de ingredientes ativos de antibióticos essenciais decidiu encerrar sua maior fábrica no continente, em um movimento que enfraquece os esforços da União Europeia para diminuir sua dependência farmacêutica da Ásia. A informação foi publicada pelo Financial Times.

A Xellia Pharmaceuticals, sediada na Dinamarca, comunicou que desativará sua planta em Copenhague e transferirá parte da produção para sua unidade na China, onde os custos são mais baixos. A medida resultará na demissão de 500 funcionários. A empresa, no entanto, manterá suas operações em Budapeste, consideradas mais eficientes financeiramente.

"Estamos discutindo muito sobre o retorno da produção à Europa. Acho igualmente importante garantir que o que já temos aqui permaneça aqui", afirmou Michael Kocher, presidente-executivo da Xellia, em entrevista ao Financial Times. Ele defendeu que os sistemas públicos de saúde europeus precisam estar dispostos a pagar mais por medicamentos genéricos, caso contrário, outras empresas seguirão o mesmo caminho.

A companhia é responsável por produzir substâncias como o cloridrato de vancomicina, fundamental no combate a infecções graves resistentes a outros antibióticos, como a sepse. Metade dos insumos farmacêuticos ativos (APIs) fabricados pela Xellia está listada tanto entre os medicamentos críticos da União Europeia quanto entre os essenciais da Organização Mundial da Saúde.

Kocher alertou que, com os atuais níveis de preços e a relutância dos sistemas de saúde em aumentá-los, subsídios se tornariam a única alternativa para manter parte da produção desses insumos dentro do bloco europeu. "Caso contrário, não serão apenas 80% dos APIs vindos da China, será quase 100% em breve", advertiu.

Segundo ele, a planta em Budapeste ainda poderia atender à demanda ocidental por vancomicina, caso as condições de mercado melhorem. Por ora, a Xellia não pretende transferir sua produção para a América do Norte, mesmo diante de incentivos dos Estados Unidos.

O fechamento da fábrica acontece no contexto de discussões em Bruxelas sobre o fortalecimento da indústria farmacêutica local. Em março, a Comissão Europeia apresentou uma proposta para o que poderá ser a futura Lei dos Medicamentos Críticos, com o objetivo de aumentar a fabricação de mais de 200 fármacos estratégicos, entre eles penicilina, eritromicina, lidocaína e morfina.

As propostas incluem iniciativas como compras públicas conjuntas entre os países e a priorização de produtos fabricados na Europa. Para Kocher, no entanto, as medidas ainda são "tímidas" e não avançam na velocidade necessária. “Os custos aumentam, você tenta repassá-los, mas os clientes consideram alto demais e acabam optando por fornecedores chineses”, criticou. “Estamos buscando um compromisso para sustentar as operações em andamento.”

Empresas de inovação farmacêutica também têm alertado sobre os riscos da política de preços baixos praticada nos sistemas de saúde europeus. Segundo os CEOs da Novartis e da Sanofi, essas práticas estão empurrando os esforços de pesquisa e desenvolvimento para os Estados Unidos e China.

A Xellia, pertencente ao fundo Novo Holdings — controlador da gigante Novo Nordisk —, comercializa seus produtos para mais de 500 empresas em 80 países. A migração da produção da fábrica de Copenhague será gradual e poderá levar até uma década. Para Kocher, o impacto da perda desses insumos pode ser dramático: “Sem nosso portfólio, estaríamos diante de um desafio enorme. A Covid seria um problema pequeno em comparação”, afirmou.

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