UE e China avançam em plano para destravar exportações de terras raras, diz von der Leyen
Bloco europeu propõe mecanismo para evitar gargalos nas licenças, mas acordo definitivo ainda não foi fechado entre as partes
247 - A União Europeia e a China deram um passo importante rumo à resolução de impasses sobre as exportações de terras raras e ímãs permanentes, com o anúncio de um plano para criar um novo mecanismo de resposta rápida a gargalos comerciais. A informação foi divulgada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, após cúpula realizada nesta quinta-feira (24) em Pequim. Apesar do avanço, as partes ainda não formalizaram um acordo definitivo.
“Concordamos – e isso é novo – em ter um mecanismo de fornecimento de exportação aprimorado. Em outras palavras, se houver gargalos, esse mecanismo de apoio pode verificar e resolver imediatamente o problema ou a questão em questão”, afirmou von der Leyen, ao descrever a proposta como um “passo pragmático”.
O tema das terras raras tornou-se um dos principais pontos de atrito na relação comercial entre China e União Europeia. A tensão se agravou após a decisão de Pequim, em abril, de impor exigências de licenciamento para a exportação desses materiais estratégicos, em reação a tarifas dos EUA. Empresas europeias foram diretamente impactadas.
Von der Leyen reconheceu o esforço chinês para acelerar a liberação das licenças e afirmou que o novo mecanismo traria “mais transparência sobre a velocidade de concessão” e possibilitaria mediação direta em caso de atrasos. Mas, segundo fontes diplomáticas, a proposta ainda carece de estrutura operacional clara e não representa a solução estrutural esperada por Bruxelas.
Bruxelas pressiona por equilíbrio comercial
Durante a cúpula, a presidente da Comissão Europeia também criticou o excesso de produção chinesa subsidiada em setores como veículos elétricos, baterias, aço e painéis solares. “A produção não corresponde à demanda doméstica, e o excedente vai para outros mercados”, disse.
Von der Leyen advertiu que, sem correção desses desequilíbrios, “será difícil manter o atual nível de abertura” do mercado europeu. Segundo ela, o governo chinês reconheceu o problema ao tratá-lo como “involução” e se mostrou disposto a estimular mais o consumo interno.
Além disso, Bruxelas cobrou o fim de medidas de retaliação contra exportações europeias de conhaque, carne suína e laticínios — vistas como resposta às tarifas aplicadas pela UE sobre carros elétricos chineses.
Xi evita confrontos e exalta parceria
O presidente chinês Xi Jinping, por sua vez, evitou responder diretamente às críticas e reafirmou a importância da parceria com a Europa. “China e Europa são ‘grandes atores’ na comunidade internacional”, disse, defendendo mais diálogo, confiança e cooperação. Segundo o governo chinês, Xi afirmou que “os desafios enfrentados pela Europa atualmente não vêm da China”.
Ele também ressaltou que não há “conflitos fundamentais de interesse” entre os dois lados e que a cooperação continua superando as divergências.
Declaração climática e divergências geopolíticas
Em outro ponto da reunião, as partes assinaram uma declaração conjunta sobre mudanças climáticas em preparação para a COP30, que será sediada pelo Brasil. Contudo, analistas apontaram que o documento não trouxe compromissos novos nem metas mais ambiciosas.
Segundo Byford Tsang, do European Council on Foreign Relations, “o texto traz apenas promessas vagas de futuras promessas, em contraste com a declaração conjunta de 2021, quando Pequim ao menos sinalizava disposição para reduzir o uso de carvão”.
No campo geopolítico, os europeus pressionaram Pequim a usar sua influência junto à Rússia. “Expressamos nossas expectativas de que a China ajude a levar a Rússia a aceitar um cessar-fogo e participar de negociações de paz”, afirmou von der Leyen.
Divergências até sobre o formato da cúpula
O evento, que marcou os 50 anos das relações diplomáticas entre UE e China, também revelou ruídos diplomáticos formais: enquanto os europeus consideraram a reunião matutina com Xi Jinping como início da cúpula, os chineses classificaram o encontro apenas como bilateral — considerando a cúpula formal apenas a realizada com o premiê Li Qiang à tarde. A discordância teria sido um dos motivos para Xi não viajar a Bruxelas.
Apesar das diferenças, o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, destacou que a disposição para manter o diálogo é um sinal positivo. “É importante que as duas partes continuem engajadas em conversas francas para construir um modelo viável de cooperação para os próximos 50 anos”, afirmou.
(Com informações do jornal SCMP)
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