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Trump designa o movimento "Antifa" como organização "terrorista"

O anúncio surge num clima de tensão política após o assassinato de Charlie Kirk

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante visita ao prédio do Federal Reserve, em Washington, D.C. - 24/07/2025 (Foto: REUTERS/Kent Nishimura)

RFI - O presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a designação do movimento "Antifa" como "organização terrorista", uma semana depois do assassínio do influenciador conservador Charlie Kirk. O suspeito, Tyler Robinson, de 22 anos, foi acusado de homicídio e a acusação requer a pena de morte. Trump apresenta Charlie Kirk como "mártir" e promete investigar alegados financiadores do movimento. Juristas e democratas contestam, apontando riscos para a liberdade de expressão.

A declaração foi feita na noite de quarta-feira, 17 de Setembro, através da rede social Truth Social, onde Donald Trump, recorrendo como habitualmente a maiúsculas, escreveu: "Tenho o prazer de informar os nossos numerosos patriotas americanos que designo o ANTIFA, uma catástrofe da esquerda radical, doente e perigosa, como organização terrorista". Em visita de Estado ao Reino Unido, o Presidente norte-americano acrescentou que vai recomendar "investigações exaustivas" sobre os alegados financiadores do movimento, que deverão ser alvo de processos "em conformidade com as normas jurídicas mais rigorosas".

O anúncio surge num clima de tensão política após a morte de Charlie Kirk, de 31 anos, fundador da organização conservadora Turning Point USA e figura destacada do movimento MAGA - "Make America Great Again” (Tornar a América Grande de Novo), o principal slogan de campanha de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016. Charlie Kirk foi assassinado no passado dia 10 de Setembro e o principal suspeito, Tyler Robinson, de 22 anos, foi formalmente acusado de homicídio voluntário, está em curso um processo em que a acusação federal requer a pena de morte. Segundo as autoridades, Tyler Robinson utilizou munições gravadas com inscrições de carácter anti-fascista e teria denunciado junto de familiares a "propagação de ódio" por parte de Charlie Kirk. Estes elementos bastaram para que sectores da direita norte-americana ligassem o crime ao movimento "Antifa", apesar de especialistas sublinharem que o jovem não tinha uma clara filiação política. Contudo, Donald Trump, não hesitou em transformar o episódio em bandeira política, classificando Charlie Kirk como "um mártir da verdade e da liberdade", denunciando a existência de "terrorismo interior de esquerda".

A legislação norte-americana permite a classificação de organizações terroristas estrangeiras, mas não prevê a mesma coisa para movimentos internos. Além disso, o movimento "Antifa" não tem estrutura hierárquica nem liderança centralizada, é antes de tudo uma designação para colectivos e activistas anti-fascistas que actuam de forma descentralizada. Em 2020, o então director do FBI, Christopher Wray, descreveu o "Antifa" como uma "ideologia" e não uma organização, sublinhando os limites jurídicos de qualquer tentativa de enquadramento legal. Juristas e organizações de defesa dos direitos civis recordam que a medida pode colidir com a Primeira Emenda da Constituição, que protege a liberdade de expressão, antecipando guerras judiciais caso a designação dê origem a detenções ou a sanções contra indivíduos e grupos.

Entre as reacções, do lado republicano, a decisão foi recebida como um gesto de firmeza necessário para enfrentar a violência política de esquerda. Do lado democrata, multiplicaram-se as críticas, com Chuck Schumer a acusar Donald Trump de "criminalizar a oposição" e o governador da Califórnia, Gavin Newsom, a denunciar "um precedente perigoso para a democracia". A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) classificou a decisão como "alarmante" e "inconstitucional", alertando para o risco de perseguição a movimentos sociais legítimos.

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