Revés judicial do governo Trump sobre tarifaço amplia incerteza e trava investimentos
Decisão da Justiça dos EUA ameaça estratégia protecionista e adia promessa de “economia poderosa” feita por Howard Lutnick
247 - Uma decisão de um tribunal de apelações dos Estados Unidos colocou em xeque a legalidade da maior parte das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump. Embora as medidas tenham sido mantidas provisoriamente até julgamento da Suprema Corte, a indefinição já paralisa investimentos, adia planos de expansão industrial e enfraquece a narrativa de que o protecionismo traria dividendos imediatos para a economia americana, segundo informou a Bloomberg.
Em março, o secretário de Comércio Howard Lutnick havia projetado que “a partir do terceiro trimestre se começaria a sentir Donald Trump e no quarto trimestre se sentiria o poder da economia de Donald Trump”. A confiança no discurso, contudo, foi substituída por ceticismo, já que os acordos firmados com União Europeia, Japão e Coreia do Sul não passam de estruturas vagas, sem garantias de cumprimento.
A análise dos especialistas
Para Jennifer McKeown, economista-chefe global da Capital Economics, o cenário é de longa indefinição: “Sabemos que essas tarifas vão permanecer em vigor até meados de outubro, pelo menos, e então Trump provavelmente levará o caso à Suprema Corte. Portanto, ainda pode haver um atraso muito longo antes de realmente sabermos o que vai acontecer”.
O impacto imediato, explica Carsten Brzeski, diretor global de macroeconomia do ING, é a paralisia empresarial. “Para qualquer companhia que faça negócios com os Estados Unidos, isso significa que nenhuma decisão estrutural será tomada agora”, disse, acrescentando que a decisão judicial devolve incerteza a mercados já acostumados ao improviso da política comercial de Trump.
Jonathan Gold, da Federação Nacional de Varejo, reforça os efeitos sobre os consumidores: “A instabilidade contínua ameaça o crescimento econômico e, em última análise, certamente resultará em preços mais altos de bens e serviços pagos pelos consumidores americanos”.
O peso político e econômico
A decisão judicial não é apenas técnica, mas também política. Trump, que privilegiou velocidade em negociações comerciais para apresentar resultados imediatos, pode enfrentar um revés estratégico. O professor Simon Evenett, da IMD Business School, estima que empresas só devem retomar investimentos de maior porte no terceiro trimestre de 2026, ampliando a distância entre a promessa de um renascimento industrial e a realidade de um setor manufatureiro em retração há seis meses.
Além disso, a pressão fiscal cresce. O Comitê para um Orçamento Federal Responsável calcula que, caso a Suprema Corte confirme a decisão da instância inferior, 71% da arrecadação projetada com tarifas desaparecerá — reduzindo o impacto previsto de US$ 2,8 trilhões para apenas US$ 800 bilhões até 2034. Isso comprometeria uma das bases do discurso de Trump: a ideia de que tarifas ajudariam a sanar o déficit orçamentário.