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Protestos na França reúnem multidões contra orçamento de arrocho do governo

Mais de um milhão foram às ruas na França exigindo justiça social e o fim do plano econômico do novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu

Manifestação contra política de arrocho na França (Foto: Julien Jaulin/hanslucas/L´Humanité)

247 - Uma onda de protestos tomou conta da França nesta quinta-feira, 18 de setembro, com destaque para Paris, onde a indignação social e a determinação popular se transformaram em uma manifestação de massa. Segundo informações do jornal comunista L’Humanité, a mobilização reuniu mais de um milhão de pessoas em todo o país, espalhadas em 588 ações registradas pelo Ministério do Interior, incluindo passeatas, bloqueios e piquetes.

O movimento foi articulado pela intersindical — composta por centrais como CFDT, CGT, FO, CFE-CGC, CFTC, Unsa, FSU e Solidaires — e teve como alvo o projeto de orçamento de austeridade apresentado pelo ex-ministro François Bayrou e herdado pelo novo responsável pela pasta, Sébastien Lecornu. Para os líderes sindicais, o plano ameaça conquistas históricas e aprofunda desigualdades sociais.

Lideranças sindicais endurecem o tom

Na linha de frente do ato em Paris, a secretária-geral da CGT, Sophie Binet, foi enfática: “Exigimos que Sébastien Lecornu responda a esta demonstração de força. Este orçamento deve ser enterrado. Não haverá estabilidade política se não houver justiça social”.Laurent Escure, da UNSA, reforçou o alerta: “Esta mobilização é um aviso, um alerta final. O governo precisa entender que as pessoas estão fartas desta situação em que são sempre as mesmas pessoas que trabalham e pagam. Precisamos de mais justiça social e justiça tributária”.

Vozes da multidão

Entre os milhares de participantes, o sentimento de revolta contra a desigualdade se repetia. Claire, funcionária da FLES de Paris, criticou a política de benefícios às empresas enquanto associações lutam para sobreviver: “Por um lado, doamos 211 bilhões de euros às empresas; por outro, lutamos para obter subsídios para manter nossa associação funcionando”.Marylise Léon, secretária-geral da CFDT, destacou a disparidade entre a elite econômica e a população vulnerável: “Há algo de indecente no debate público ao se emocionar com uma pseudo-estigmatização dos mais ricos. Eles são apenas 2 mil, enquanto falamos de 10 milhões de pessoas em situação de pobreza”.

Greves e pressão nas ruas

O setor público também mostrou força. Segundo o Ministério da Função Pública, 11% dos servidores cruzaram os braços até as 14h, com destaque para a educação nacional, que registrou 45% de adesão no ensino secundário. Jean-Yann William, do sindicato policial Unité-FO, denunciou o impacto direto do orçamento. Entre os manifestantes, a frustração com o governo era visível. Mustapha, gari de Paris, resumiu o sentimento: “Quero que Macron vá embora como Bayrou, é só isso”. Em um cartaz improvisado, escreveu: “Macron, eu te odeio de todo o meu coração”.

Cansaço social e ameaça de paralisação contínua

A insatisfação também alcança trabalhadores que raramente aderem às greves. Marielle, animadora em Trappes, contou que mesmo relutante decidiu protestar: “É difícil abrir mão de um dia de salário, mas a raiva é tanta que não tive escolha. Os salários, a inflação, nossas aposentadorias... Macron só cuida dos ricos, e ponto”.No cortejo sindical, o clima era de mobilização permanente. Nicolas, funcionário da Suez Sevesc e representante sindical, afirmou: “Estou pronto para uma greve reconduzível se for preciso. Não acredito que dias de greve isolados nos levarão a algum lugar”.

Determinação no horizonte

A manifestação em Paris, que percorreu as ruas até a Place de la Nation, deixou claro que o movimento não pretende recuar. Sophie Binet garantiu que a pressão continuará: “Nós estamos determinados. Não estamos perto de voltar para casa. Jamais um presidente foi tão fraco. Graças à mobilização de dois anos atrás, estamos em posição de força”.

Com o aumento da insatisfação popular e a rejeição crescente ao orçamento, a França enfrenta uma nova onda de tensão social que promete testar a capacidade do governo de negociar diante da força das ruas.

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