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Pela primeira vez, uma mulher assume comando do governo japonês

A direitista Sanae Takaichi inicia mandato com promessas de conter inflação e reforçar segurança nacional

Sanae Takaishi (Foto: Reuters)

247 - O Japão elegeu nesta terça-feira (21) sua primeira primeira-ministra. Sanae Takaichi, integrante do Partido Liberal Democrata (PLD), foi confirmada pelo Parlamento após a formação de uma nova coalizão com o partido de direita Inovação do Japão (Ishin). A votação ocorreu poucos dias depois da renúncia de Shigeru Ishiba, que deixou o cargo de premiê.

Com 237 votos, Takaichi superou a maioria necessária na Câmara Baixa e deve ser confirmada também na Câmara Alta. Sua ascensão rompe um tabu de décadas em um país onde a política permanece dominada por homens. Além de simbolizar um avanço de gênero, sua vitória consolida uma guinada conservadora em Tóquio, com reflexos diretos tanto na política doméstica quanto nas relações internacionais do Japão, destaca reportagem da Reuters.

A vitória de Takaichi representa uma guinada à direita na política japonesa e consolida a presença do Ishin no poder após o rompimento da antiga aliança entre o PLD e o Komeito.

A nova coalizão e os planos de governo

O acordo com o Ishin foi decisivo para a eleição de Takaichi. A legenda, fundada em Osaka em 2010, defende uma agenda de linha dura em temas como imigração e segurança nacional. Entre as propostas, estão limitar o número de residentes estrangeiros e restringir a compra de propriedades por investidores de fora do país.

O partido também compartilha com Takaichi o objetivo de rever a constituição pacifista, ampliando as capacidades militares japonesas em resposta às tensões regionais, especialmente com a China.

Formação do novo gabinete

Logo após a vitória, o novo secretário-chefe de gabinete, Minoru Kihara, anunciou os nomes que comporão a equipe de governo. Entre os principais ministros estão:

  • Toshimitsu Motegi, Relações Exteriores e principal negociador comercial com os EUA
  • Yoshimasa Hayashi, Assuntos Internos e Comunicações
  • Satsuki Katayama, Finanças
  • Ryosei Akazawa, Comércio e Indústria
  • Shinjiro Koizumi, Defesa
  • Minoru Kiuchi, Revitalização Econômica
  • Kimi Onoda, Segurança Econômica

A escolha de Katayama para o Ministério das Finanças chamou a atenção dos mercados, já que a economista defende maior intervenção para estabilizar o iene e medidas ousadas de estímulo econômico.

Economia em foco

Shunichi Suzuki, secretário-geral do PLD, afirmou em entrevista à emissora NHK que a prioridade imediata será conter a alta de preços:

Takaichi, por sua vez, é defensora de políticas fiscais expansionistas e de maior intervenção do Estado sobre o Banco do Japão. A nova premiê já declarou intenção de lançar um pacote econômico acompanhado de um orçamento suplementar.

Reações do mercado e da comunidade internacional

Segundo a Reuters, a eleição de Takaichi trouxe alívio aos investidores. O índice Nikkei avançou e renovou recordes, enquanto o câmbio dólar/iene se manteve estável. Kerry Craig, estrategista da JP Morgan Asset Management, avaliou que a mudança política devolve previsibilidade ao país: “O Japão parece estar em terreno mais seguro. Agora temos a remoção dessa incerteza política.”

Do exterior, vieram os primeiros cumprimentos oficiais. O embaixador dos Estados Unidos em Tóquio, George Glass, parabenizou a nova líder em mensagem publicada na rede X.

Um perfil inspirado em Margaret Thatcher

Filha de um trabalhador da indústria automotiva e de uma policial, Sanae Takaichi tem uma trajetória distinta da elite política japonesa. Ex-ministra da Segurança Econômica e de Assuntos Internos, ela costuma citar a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher como inspiração. “Admirava sua força de caráter, suas convicções e, ao mesmo tempo, sua ‘calorosa feminilidade’”, disse Takaichi, lembrando-se do encontro que teve com Thatcher pouco antes de sua morte, em 2013.

Apesar da referência à “Dama de Ferro”, Takaichi adota posições diferentes em economia: enquanto Thatcher defendia austeridade, a nova premiê japonesa aposta em gastos públicos e cortes de impostos para estimular o crescimento.

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