Nasa restringe participação de chineses em seus projetos espaciais
Medida afeta pesquisadores com visto americano em meio à disputa pela Lua
247 - A Nasa impôs restrições inéditas a cidadãos chineses que possuem visto americano, impedindo-os de participar de programas da agência espacial. A informação foi revelada pela Folha de S.Paulo, que ouviu pessoas próximas ao assunto. A decisão ocorre em um contexto de escalada da rivalidade entre Washington e Pequim pela liderança da próxima fase da corrida espacial.
Segundo a reportagem, em 5 de setembro pesquisadores chineses perderam acesso aos sistemas de dados da Nasa e foram barrados de reuniões de trabalho, tanto presenciais quanto virtuais. Até então, mesmo com restrições formais, era comum que cientistas e estudantes da China colaborassem como contratados ou vinculados a universidades americanas. A porta-voz Bethany Stevens confirmou a medida: “A Nasa tomou ações internas relacionadas a cidadãos chineses, incluindo a restrição de acesso físico e de cibersegurança às nossas instalações, materiais e rede para garantir a segurança do nosso trabalho”.
Disputa pela Lua reacende discurso de “corrida espacial”
A ofensiva ocorre em meio aos planos de China e Estados Unidos de enviar missões tripuladas à Lua nos próximos cinco anos. O administrador interino da Nasa, Sean Duffy, usou tom beligerante ao falar sobre a disputa: “Estamos em uma segunda corrida espacial agora. Os chineses querem voltar à Lua antes de nós. Isso não vai acontecer. A América liderou no espaço no passado, e vamos continuar a liderar no espaço no futuro”.
O discurso de Duffy ecoa a retórica da Casa Branca. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem priorizando investimentos em programas de defesa e corte de pesquisas climáticas na agência, ao mesmo tempo em que aumenta a pressão sobre a China em diversos setores estratégicos.
Apoio político e pressões orçamentárias
No Congresso americano, a decisão da Nasa foi respaldada por vozes conservadoras. O senador republicano Ted Cruz afirmou que o financiamento destinado ao programa Artemis — que inclui o foguete da Boeing e a cápsula Orion da Lockheed Martin — é crucial para que “astronautas americanos, não chineses, retornem à Lua e liderem o caminho para Marte”.
A medida também se insere em um momento delicado para a agência, que enfrenta cortes de pessoal, pressões orçamentárias e incertezas quanto à continuidade de seus projetos emblemáticos de exploração.
Reações internacionais
O bloqueio a pesquisadores chineses é mais um elemento da deterioração das relações entre Washington e Pequim. Durante a cúpula do Brics, o presidente Xi Jinping criticou o impacto das guerras tarifárias e comerciais, afirmando que elas “perturbam severamente a economia mundial e minam as regras do comércio internacional”.
Enquanto isso, o Pentágono anunciou que enviará representantes ao Fórum Xiangshan, principal encontro de segurança da China, em meio a contatos diretos entre os ministros da Defesa dos dois países. O gesto sinaliza que, apesar das tensões, os canais diplomáticos permanecem ativos.