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      Microsoft pediu ajuda ao FBI para conter protestos internos sobre guerra em Gaza

      Gigante da tecnologia acionou autoridades americanas para monitorar funcionários que protestam contra contratos da empresa com Israel

      Microsoft pediu ajuda ao FBI para conter protestos internos sobre guerra em Gaza (Foto: REUTERS/Jacky Naegelen)
      Luis Mauro Filho avatar
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      247 - A Microsoft recorreu ao Federal Bureau of Investigation (FBI) para monitorar protestos de seus próprios funcionários contrários à relação comercial da companhia com Israel durante a guerra em Gaza. A informação foi revelada pela Bloomberg, que teve acesso a documentos internos e relatos de empregados envolvidos.

      Segundo a reportagem, a maior fabricante de softwares do mundo vem enfrentando, há quase um ano, uma onda de resistência organizada por trabalhadores que exigem o rompimento dos contratos da empresa com instituições militares israelenses. Os protestos, ainda que limitados em número, ganharam notoriedade em meio ao endurecimento do mercado de trabalho nos Estados Unidos e à repressão do governo do presidente Donald Trump contra manifestações pró-Palestina.

      Repressão interna e apoio do FBI

      De acordo com os documentos citados pela Bloomberg, a Microsoft não apenas monitorou mensagens e posts internos com menções a “Gaza”, como também deletou conteúdos e suspendeu funcionários por manifestações. A empresa buscou apoio de autoridades locais e do FBI para impedir atos dentro e fora de suas instalações. Em um e-mail obtido pela agência, um diretor de investigações da companhia chegou a apontar nominalmente ex-funcionários como articuladores de protestos e acusou-os de ligar a empresa a “genocídio”.

      O FBI, por sua vez, afirmou respeitar o direito de manifestação pacífica, mas evitou comentar interações específicas com a Microsoft.

      Demissões, prisões e protestos em eventos corporativos

      A repressão não impediu o avanço das mobilizações. No campus da Microsoft em Redmond, Washington, 20 pessoas foram presas após se recusarem a deixar a praça principal, erguendo barricadas improvisadas e gritando palavras de ordem contra a direção da empresa.

      No evento de 50 anos da companhia, duas engenheiras, Vaniya Agrawal e Ibtihal Aboussad, interromperam palestras de executivos como Mustafa Suleyman, Satya Nadella, Bill Gates e Steve Ballmer. “Essas não são apenas ferramentas digitais. Nuvem e inteligência artificial são tão letais quanto bombas e balas”, declarou Agrawal antes de ser retirada pela segurança.

      No mesmo período, Joe Lopez, engenheiro de 26 anos, protestou durante a conferência Build em Seattle, acusando Nadella de “perpetuar crimes de guerra”. Ele foi demitido horas depois.

      Acusações de cumplicidade com crimes de guerra

      O grupo de funcionários No Azure for Apartheid afirma que o serviço de computação em nuvem da Microsoft lucra com a morte de civis palestinos ao fornecer tecnologias à máquina militar israelense. O movimento ganhou força após reportagens, entre elas do jornal The Guardian, revelarem que dados de palestinos interceptados por Israel teriam sido armazenados em servidores da empresa e usados para selecionar alvos de bombardeios em Gaza.

      A Microsoft nega as acusações. O presidente Brad Smith declarou que a companhia “não tolera o uso de suas tecnologias para violar direitos humanos” e que clientes devem respeitar o direito internacional. Ele acrescentou: “Se determinarmos que um cliente está usando nossa tecnologia de forma que viole nossos termos de serviço, tomaremos medidas para enfrentar isso”.

      Divisão dentro da companhia

      As tensões internas se intensificaram após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Enquanto funcionários judeus denunciaram aumento do antissemitismo, empregados palestinos e aliados acusaram a empresa de ignorar as mortes de civis em Gaza, que já somam dezenas de milhares.

      Os protestos repetem práticas vistas em universidades americanas, com acampamentos e bloqueios de prédios. Em agosto, manifestantes chegaram a montar uma “zona liberada” no campus da Microsoft, exibindo faixas com frases como “Praça das crianças mártires da Palestina”.

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