Líderes da APEC defendem comércio equilibrado e cooperação global
Declaração conjunta reforça resiliência econômica e aponta para novos desafios nas relações entre China, Coreia do Sul e Estados Unidos
247 - Diante das crescentes tensões no comércio global, os líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) concluíram, neste sábado (1º), sua cúpula anual em Gyeongju, Coreia do Sul, com uma declaração conjunta que enfatiza a necessidade de resiliência e benefícios compartilhados entre as nações participantes. O encontro, marcado por disputas geopolíticas e políticas comerciais cada vez mais assertivas, reuniu 21 economias que representam quase metade do comércio mundial, informa a Reuters.
A Coreia do Sul procurou equilibrar suas alianças econômicas e políticas entre Washington e Pequim. O presidente sul-coreano, Lee Jae Myung, recém-eleito após a destituição de seu antecessor, recebeu o presidente da China, Xi Jinping, em uma visita de Estado que marcou o encerramento da cúpula.
Declaração conjunta sem menção ao multilateralismo
A declaração final da APEC abordou temas como comércio, inteligência artificial e mudanças demográficas, mas evitou citar diretamente o multilateralismo e a Organização Mundial do Comércio (OMC) — uma ausência que, segundo analistas, reflete o enfraquecimento do consenso global sobre livre comércio.“Será difícil restaurar uma ordem de livre comércio baseada no multilateralismo e na Organização Mundial do Comércio”, afirmou Heo Yoon, professor de comércio internacional da Universidade Sogang, em Seul. Ele acrescentou que o mundo atravessa “uma mudança paradigmática na ordem comercial global”.Apesar da ausência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deixou o país antes do início da cúpula, sua influência foi sentida nas discussões. Trump havia anunciado acordos bilaterais com China e Coreia do Sul dias antes do encontro, sinalizando uma preferência por negociações diretas em detrimento de fóruns multilaterais.
China assume papel de defensora do livre comércio
Com a saída antecipada de Trump, a China se apresentou como defensora da abertura comercial e da cooperação econômica internacional, um papel tradicionalmente ocupado por Washington. O presidente Xi Jinping anunciou que Shenzhen sediará a APEC em 2026, reforçando o interesse de Pequim em liderar os debates sobre o futuro do comércio global.Ainda assim, especialistas observam que os países-membros foram cautelosos em não retratar os Estados Unidos como um obstáculo à liberalização comercial, nem a China como única guardiã do multilateralismo. “Poucos países acreditam que possa existir uma nova ordem comercial que exclua os Estados Unidos”, destacou Heo.
Lee busca equilíbrio entre Washington e Pequim
Para o presidente Lee Jae Myung, a visita de Xi representa um momento decisivo para redefinir as relações bilaterais. “Devemos ir além da simples restauração e encontrar um caminho de cooperação que seja mutuamente benéfico”, declarou Lee em entrevista coletiva antes do encontro.Durante a semana, Lee também recebeu o presidente Donald Trump em uma visita relâmpago que resultou em um acordo comercial prevendo a redução de tarifas americanas em troca de bilhões de dólares em investimentos sul-coreanos nos Estados Unidos.A visita de Xi — sua primeira à Coreia do Sul em 11 anos — inclui banquete de Estado e uma reunião de cúpula focada em comércio e segurança. O tema da desnuclearização da Península Coreana foi confirmado na pauta oficial, embora o governo da Coreia do Norte tenha desdenhado da proposta, chamando-a de “sonho irrealizável”.
Inteligência artificial e novos desafios regionais
No encerramento da cúpula, Xi Jinping propôs a criação de uma Organização Mundial de Cooperação em Inteligência Artificial, destacando a necessidade de regras compartilhadas para o avanço tecnológico global. Outras resoluções trataram de questões demográficas e impactos da automação nas economias da região.
Com os Estados Unidos reforçando acordos bilaterais e a China ampliando sua influência regional, o equilíbrio de forças no comércio internacional se mostra cada vez mais complexo. A APEC encerrou sua reunião em meio a expectativas de que 2026, sob a presidência chinesa, marque uma nova etapa de disputa estratégica pela liderança econômica mundial.


