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Leão XIV é continuidade de Francisco, armadilha para Trump e o segundo papa latino-americano, diz sociólogo

Francisco Borba afirma que críticas aos EUA agora partem de um papa “conterrâneo e branco”, tornando o embate com Trump um tema interno

Papa Leão XIV (Foto: Reuters/Murad Sezer)
Guilherme Levorato avatar
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247 - A eleição do cardeal Robert Prevost como novo líder da Igreja Católica surpreendeu pela rapidez com que o conclave foi encerrado e pela escolha de um perfil considerado amplamente reformista. Com a adoção do nome Leão XIV, o novo Papa consolida a linha social e pastoral iniciada por Francisco, com quem compartilha afinidades espirituais e sensibilidade pastoral. A análise é do sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, ex-coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, que concedeu entrevista ao jornal O Globo sobre o impacto da escolha.

Para Borba, Leão XIV representa uma continuidade segura do legado de Jorge Mario Bergoglio. “Ele dificilmente vai criar mais ‘problemas’ do que Francisco. Pelo contrário, deve dar continuidade ao trabalho com até menos desafios”, afirmou. O teólogo também destaca que o novo Papa, naturalizado peruano, pode ser considerado, de fato, o segundo pontífice latino-americano, ainda que tenha nascido nos Estados Unidos.

Continuidade e simbologia - A escolha do nome Leão XIV remete ao Papa Leão XIII, responsável por inaugurar a doutrina social contemporânea da Igreja. Segundo Borba, a decisão reforça o alinhamento de Prevost com as causas sociais: “foi um grande defensor dos pobres e que criticou muito, dentro dos padrões do século XIX, o capitalismo na época”.

Ainda que tenha adotado vestes papais mais tradicionais em sua primeira aparição, o novo Papa parece não pretender romper com a simplicidade que marcou o estilo de seu antecessor. “Depois de 12 anos de Francisco, não há uma necessidade premente de adotar sinais claros de uma grande mudança de postura”, explicou o sociólogo, ao ponderar que a escolha de uma estética mais formal pode facilitar o diálogo com alas conservadoras da Igreja.

Repercussões e desafios - A trajetória de Prevost na Cúria Romana também foi um fator decisivo para sua escolha. À frente do órgão responsável por orientar a escolha de novos bispos, ele desenvolveu contato constante com a Igreja em diversas partes do mundo. Isso lhe conferiu uma visão abrangente, reforçando seu nome como alguém preparado para conduzir o Vaticano.

Por outro lado, o passado do novo Papa foi alvo de atenção quanto à forma como lidou com denúncias de abuso sexual. Embora tenha encaminhado os casos ao Vaticano, a crítica persistente é de que sua postura não tenha sido suficientemente contundente. Borba minimizou o impacto dessa questão em seu pontificado: “o problema era como a Igreja enfrentava o problema, não como ele pessoalmente o fazia”.

Um embate interno com Trump - Entre os temas mais delicados, Borba destacou a tensão potencial entre o Vaticano e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Diferente de Francisco, cujas críticas poderiam ser desqualificadas por setores conservadores como oriundas de um Papa argentino, agora os embates passam a ocorrer em outra chave. “A Igreja criou uma armadilha para Trump”, afirmou Borba. “Agora, ele não pode mais dizer que as críticas ao seu governo são anti-americanas, terceiro-mundistas, comunistas ou coisa parecida. As críticas agora vêm de um Papa conterrâneo e branco”.

Embora Trump tenha emitido uma declaração formal de satisfação com a escolha, segundo Borba, o gesto pode indicar uma tentativa de manter um canal de diálogo aberto com o Vaticano. “É um sinal de que ele terá de procurar um diálogo favorável com Leão XIV”, avaliou.

A relação com a América Latina também deve ganhar um novo impulso, dadas as origens e vivência do novo pontífice no Peru. Para Borba, o reconhecimento desse vínculo aprofunda o papel da Igreja na região: “nós temos, sim, o segundo Papa latino-americano”, concluiu.

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