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Israel promete manter "cessar-fogo" em Gaza após ataques que mataram 104 pessoas

Ministério da Saúde de Gaza afirma que 46 crianças estão entre as vítimas dos bombardeios israelenses

Visão de drone de bairro residencial na Cidade de Gaza, atacado por Israel, em meio ao genocídio do povo palestino - 19/10/2025 (Foto: REUTERS/Dawoud Abu Alkas)

247 - O Exército de Israel afirmou nesta quarta-feira (29) que continuará a respeitar o cessar-fogo firmado com o Hamas na Faixa de Gaza, apesar dos intensos bombardeios realizados na véspera, que resultaram na morte de 104 pessoas, segundo autoridades de saúde palestinas. As informações são da agência Reuters.

Os ataques ocorreram na noite de terça-feira (28), após a morte de um soldado israelense em uma ação atribuída a militantes palestinos. O episódio colocou em risco a trégua acordada entre as partes no início de outubro, mas Israel disse que agiu em resposta direta à ofensiva e que continuará a “reagir firmemente a qualquer violação do acordo”, conforme nota oficial do Exército israelense.

Israel afirma ter atacado militantes do Hamas

De acordo com comunicado militar, as forças israelenses atingiram “dezenas de militantes do Hamas” em várias regiões do enclave, além de depósitos de armas e túneis pertencentes ao grupo. O Exército divulgou ainda os nomes de cinco combatentes mortos, entre eles um comandante do Hamas acusado de ter participado do ataque a um kibutz israelense em 7 de outubro de 2023, evento que deu início à guerra.

O Ministério da Saúde de Gaza relatou que entre as vítimas dos bombardeios estão 46 crianças e 20 mulheres. A Reuters informou não ter conseguido verificar de forma independente esses números, mas imagens de vídeo da agência mostraram corpos de mulheres e crianças em um hospital local durante os funerais.

Trump diz que cessar-fogo “não está em risco”

O atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o cessar-fogo apoiado por Washington segue válido. “Pelo que entendo, eles [os militantes] mataram um soldado israelense. Então os israelenses revidaram, e é o que devem fazer. Quando isso acontece, eles precisam responder”, declarou Trump a jornalistas a bordo do Air Force One.

Trump acrescentou que “nada vai colocar em risco o cessar-fogo” e minimizou o papel do Hamas no processo de paz. “É preciso entender que o Hamas é uma parte muito pequena da paz no Oriente Médio, e eles precisam se comportar”, disse.

Palestinos temem colapso da trégua

Entre os deslocados na Faixa de Gaza, o clima é de apreensão. O palestino Ismail Zayda, de 40 anos, pai de três filhos, contou que a noite foi marcada por explosões e medo. “Foi uma das piores noites desde a assinatura do cessar-fogo. O som dos aviões e das bombas nos fez sentir como se a guerra tivesse recomeçado”, relatou Zayda à Reuters, em conversa por aplicativo de mensagens.

Acusações mútuas de violação do acordo

Israel acusa o Hamas de ter rompido o cessar-fogo ao atacar tropas israelenses que estavam dentro da chamada “linha amarela”, área de segurança definida no pacto. O Hamas, por sua vez, nega responsabilidade pelo incidente em Rafah, no sul de Gaza, e reiterou seu compromisso com o acordo firmado em 10 de outubro.

O cessar-fogo previa a libertação de todos os reféns israelenses em troca de quase 2 mil prisioneiros palestinos, além da suspensão das operações militares e da retirada das tropas israelenses do território. O Hamas também se comprometeu a entregar os restos mortais de reféns falecidos, processo que, segundo o grupo, ainda está em andamento.

Polêmica sobre entrega de restos mortais

Na segunda-feira (27), o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu anunciou que restos humanos entregues ao país pertenciam a uma das vítimas do ataque de 7 de outubro de 2023. O Exército israelense acusou o Hamas de ter “plantado” os restos em um local de escavação antes de chamar o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), simulando a descoberta de um corpo para “criar uma falsa impressão de cooperação”.

Um vídeo de 14 minutos divulgado por Israel mostra três homens colocando um saco branco no solo e cobrindo-o com pedras e terra. A Reuters confirmou a localização do vídeo, mas não conseguiu verificar a data ou a veracidade da acusação israelense.

O Hamas não respondeu imediatamente ao pedido de comentário. Em nota, o CICV lamentou o episódio e declarou: “É inaceitável que uma recuperação falsa tenha sido encenada, quando tanto depende da manutenção deste acordo e tantas famílias ainda aguardam notícias de seus entes queridos.”

A trégua mediada por Washington segue formalmente em vigor, mas a escalada recente reacende temores de um retorno à guerra total na Faixa de Gaza.

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