Investidores pressionam Fed às vésperas de decisão sobre juros nos EUA
Com incertezas sobre tarifas, imigração e tensão no Oriente Médio, expectativa é de manutenção da taxa, mas mercado busca pistas sobre futuros cortes
247 - Às vésperas da reunião do Federal Reserve marcada para os dias 17 e 18 de junho, o mercado financeiro global acompanha com atenção os sinais emitidos por seus dirigentes sobre os próximos passos da política monetária dos Estados Unidos.
Segundo reportagem da Bloomberg News, embora o cenário indique que o banco central manterá os juros inalterados pela quarta vez consecutiva, investidores querem saber: o que será necessário para que os cortes finalmente comecem?
O presidente Donald Trump, em seu segundo mandato, já manifestou impaciência com a demora em reduzir as taxas e pode reagir com críticas públicas caso o Fed opte por não agir. No entanto, as autoridades monetárias têm sido claras ao afirmar que a tomada de decisão depende, em grande medida, da resolução de incertezas provocadas pela própria Casa Branca — entre elas, políticas tarifárias, tributárias e migratórias. Além disso, os recentes bombardeios israelenses contra instalações nucleares no Irã aumentaram a instabilidade geopolítica, fator que costuma ser considerado com cautela pelo Fed.
Economia sem sinal de alarme
Por ora, os indicadores econômicos não justificam um movimento imediato. A taxa de desemprego segue estável há três meses, mesmo com a desaceleração na criação de vagas, impulsionada pela queda na imigração e consequente redução da força de trabalho. Ao mesmo tempo, o núcleo da inflação veio abaixo das expectativas em maio pelo quarto mês consecutivo, o que fortaleceu apostas em possíveis cortes ainda este ano — embora não de forma iminente.
“O caminho mais seguro a seguir nessa situação, quando não há urgência para cortar as taxas agora, é simplesmente manter os braços cruzados”, disse Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management.
Segundo os contratos futuros, o mercado projeta que a primeira redução de juros possa ocorrer apenas a partir de setembro, cenário que dependerá do comportamento da inflação e do impacto concreto das tarifas sobre os preços ao consumidor.
Pressão cruzada sobre o Fed
As tarifas impostas por Trump podem provocar efeitos contraditórios: de um lado, pressionam os preços e podem elevar a inflação; de outro, freiam o crescimento econômico e dificultam decisões de investimento por parte das empresas. Esse impasse foi destacado por David Hoag, gestor de renda fixa da Capital Group: “Não acho que haja motivo de alarme neste momento, mas quanto mais tempo persistirem as incertezas — para consumidores e empresas — maior será a minha preocupação com a deterioração dos fundamentos da economia”.
A tensão externa também entrou no radar. Embora o Fed, historicamente, tenda a ignorar oscilações pontuais no preço do petróleo, choques mais duradouros, como os provocados por conflitos armados, podem alterar as expectativas de inflação e, assim, influenciar a política de juros.
Projeções sob revisão
Além da decisão sobre os juros, os dirigentes do Fed divulgarão novas projeções econômicas — as primeiras desde o anúncio das tarifas de abril, denominado por Trump de “Dia da Libertação”. A revisão dessas estimativas pode sinalizar mudanças importantes. Caso as previsões apontem para uma alta mais forte no desemprego, por exemplo, isso abriria espaço para cortes antes do final do ano, segundo a mesma Seema Shah.
Alguns integrantes do Fed, como o governador Christopher Waller, já indicaram que estão abertos à possibilidade de redução nas taxas, desde que a alta de preços causada pelas tarifas se mostre transitória e as expectativas inflacionárias permaneçam ancoradas. No entanto, se a projeção para a inflação subir, o número de cortes poderá cair — de dois, como estimado em março, para apenas um, alertou Matthew Luzzetti, economista-chefe do Deutsche Bank nos EUA.
Zachary Griffiths, estrategista da CreditSights, acredita que o cenário geral pouco mudou desde a última rodada de projeções. “Eu ficaria surpreso se os pontos (‘dots’) se alterassem muito. Tem sido uma montanha-russa desde março, mas no balanço geral ainda estamos numa situação parecida”, afirmou.
O que o mercado espera
Pesquisa da Bloomberg feita entre 6 e 11 de junho revela que 42% dos economistas consultados acreditam que o Fed manterá os juros estáveis até que haja sinais claros de enfraquecimento da economia. Julia Coronado, ex-economista da própria instituição e fundadora da MacroPolicy Perspectives, projeta que os cortes comecem entre outubro e dezembro, motivados por uma desaceleração mais acentuada do mercado de trabalho.
Enquanto a reunião do Fed não acontece, os investidores seguem atentos ao pronunciamento de Jerome Powell, previsto para a tarde do dia 18. É quando se espera que, mesmo sem alterar os juros, o presidente do banco central dos EUA forneça pistas mais consistentes sobre quando — e por quais motivos — o ciclo de cortes pode finalmente começar.
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