Hamas anuncia acordo com Autoridade Palestina para criar comitê de gestão em Gaza
Função do novo órgão é administrar temporariamente a Faixa de Gaza e supervisionar fronteiras, mas ainda depende de aval internacional
247 - Um dirigente sênior do Hamas confirmou que o Movimento e a Autoridade Palestina (AP) chegaram a um acordo preliminar para criar um comitê temporário que administrará a Faixa de Gaza. A informação foi dada por Moussa Abu Marzouk em entrevista à rede Al Jazeera nesta terça-feira (4).
De acordo com o The Times of Israel, o comitê será chefiado por um ministro da Autoridade Palestina e será responsável pela supervisão das passagens de fronteira e das forças de segurança locais.
Fontes árabes confirmam tratativas e papel regional
O portal Al-Araby Al-Jadeed informou que Hamas e Fatah estariam próximos de formar “um comitê de tecnocratas politicamente independentes” para administrar Gaza após o conflito. A agência Shafaq News também relatou que o Hamas teria sinalizado disposição de transferir a administração do território à Autoridade Palestina, desde que sejam garantidos o pagamento de salários e a reintegração de funcionários públicos.Já o Middle East Eye revelou que a Arábia Saudita pretende apoiar financeiramente a reconstrução da Faixa de Gaza por meio da Autoridade Palestina, com o objetivo de reduzir a influência direta do Hamas e favorecer uma gestão institucional mais estável. A convergência dessas informações reforça o caráter regional da proposta, envolvendo interesses diplomáticos e estratégicos de potências árabes e ocidentais.
Divergências sobre presença internacional
Durante a entrevista à Al Jazeera, Abu Marzouk criticou a postura de Israel ao impedir a entrada de forças da ONU nas áreas sob seu controle em Gaza, afirmando que isso “contradiz a proposta preliminar apresentada pelos Estados Unidos ao Conselho de Segurança da ONU”. Ele destacou que ainda há “uma longa discussão necessária” sobre o mandato e a atuação da força internacional proposta.
Questionado sobre o desarmamento do Hamas, exigido no “plano de paz” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Abu Marzouk foi categórico:
“O Hamas é a força que controla o terreno [em Gaza]. Se for desarmado, haverá outras armas e outros grupos. Assim como no Iraque, quando o exército iraquiano foi dissolvido, o caos se instalou — a Al-Qaeda e o Estado Islâmico emergiram.”
Ele acrescentou que a medida “não contribuiria para a estabilidade nem para a implementação de acordos como o cessar-fogo”.
Plano de Trump enfrenta resistência israelense
Segundo a emissora israelense Channel 12, o governo de Israel rejeita partes do esboço de resolução apresentado por Washington ao Conselho de Segurança da ONU, que propõe a criação de uma Força Internacional de Estabilização (ISF). A proposta prevê que tropas estrangeiras garantam a segurança das fronteiras, protejam civis e zonas humanitárias e supervisionem o desarmamento do Hamas.O portal Axios acrescenta que o plano inclui a criação de um “Conselho da Paz”, órgão transitório com personalidade jurídica internacional encarregado de coordenar a reconstrução de Gaza até que a Autoridade Palestina conclua suas reformas internas. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, no entanto, insiste que a AP “não pode ter qualquer papel na governança da Faixa de Gaza” após o conflito.
Próximos passos e impasses
Os Estados Unidos planejam enviar as primeiras tropas da ISF a Gaza em janeiro, caso o texto seja aprovado nas próximas semanas. Porém, o avanço do plano de paz de 20 pontos de Donald Trump segue travado, já que o Hamas ainda mantém sete corpos de reféns — cinco israelenses, um tailandês e um tanzaniano.
A criação do comitê de gestão palestino, se confirmada, poderá representar um primeiro passo rumo à reestruturação política e administrativa da Faixa de Gaza, mas seu sucesso dependerá de um delicado equilíbrio entre as forças palestinas, a aprovação internacional e a aceitação de Israel.


